Enquanto
o espírito Bopé-joku assoviava uma melodia, o milho se erguia da
terra, imparável, luminoso, e oferecia espigas gigantes, inchadas de
grãos.
Uma
mulher as estava colhendo de um jeito ruim. Ao arrancar brutalmente
uma espiga, machucou-a. A espiga se vingou machucando sua mão. A
mulher insultou Bopé-joku e maldisse o seu assovio.
Quando
Bopé-joku fechou seus lábios, o milho murchou e secou.
Nunca
mais se escutaram os alegres assovios que faziam brotar os milharais
e lhes davam vigor e beleza. Desde então, os índios bororós
cultivam o milho com pena e trabalho e colhem frutos mesquinhos.
Assoviando
se expressam os espíritos. Quando os astros aparecem na noite, os
espíritos os cumprimentam assim. Cada estrela responde com um som,
que é o seu nome.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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