Uma
mulher do povo tillamook encontrou, no meio do bosque, uma cabana da
qual saía fumaça. Aproximou-se, curiosa, e entrou.
No
centro, entre pedras, ardia o fogo.
No
teto estavam pendurados muitos salmões. Um deles caiu sobre sua
cabeça. A mulher apanhou-o e colocou-o em seu lugar. Novamente o
peixe se desprendeu e bateu na sua cabeça, e ela tornou a pendurá-lo
e o salmão, a cair.
A
mulher atirou ao fogo as raízes que tinha apanhado para comer. O
fogo queimou-as num instante. Furiosa, ela bateu na fogueira com o
atiçador, uma e outra vez, com tanta violência que o fogo estava
apagando-se quando chegou o dono da casa e deteve seu braço.
O
homem misterioso avivou as chamas, sentou-se junto da mulher e
explicou:
– Você
não entendeu.
Ao
bater nas chamas e dispersar as brasas, ela esteve a ponto de deixar
o fogo cego, e esse era um castigo que ele não merecia. O fogo tinha
comido as raízes porque pensou que a mulher estava oferecendo-as. E
antes, tinha sido o fogo quem desprendera o salmão uma e outra vez
sobre a cabeça da mulher, mas não para machucá-la: essa tinha sido
sua maneira de dizer-lhe que podia cozinhar o salmão.
– Cozinhá-lo?
O que é isso?
Então
o dono da casa ensinou a mulher a conversar com o fogo, a dourar o
peixe sobre as brasas e a comer com alegria.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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