terça-feira, 22 de novembro de 2022

A cozinha

Uma mulher do povo tillamook encontrou, no meio do bosque, uma cabana da qual saía fumaça. Aproximou-se, curiosa, e entrou.
No centro, entre pedras, ardia o fogo.
No teto estavam pendurados muitos salmões. Um deles caiu sobre sua cabeça. A mulher apanhou-o e colocou-o em seu lugar. Novamente o peixe se desprendeu e bateu na sua cabeça, e ela tornou a pendurá-lo e o salmão, a cair.
A mulher atirou ao fogo as raízes que tinha apanhado para comer. O fogo queimou-as num instante. Furiosa, ela bateu na fogueira com o atiçador, uma e outra vez, com tanta violência que o fogo estava apagando-se quando chegou o dono da casa e deteve seu braço.
O homem misterioso avivou as chamas, sentou-se junto da mulher e explicou:
Você não entendeu.
Ao bater nas chamas e dispersar as brasas, ela esteve a ponto de deixar o fogo cego, e esse era um castigo que ele não merecia. O fogo tinha comido as raízes porque pensou que a mulher estava oferecendo-as. E antes, tinha sido o fogo quem desprendera o salmão uma e outra vez sobre a cabeça da mulher, mas não para machucá-la: essa tinha sido sua maneira de dizer-lhe que podia cozinhar o salmão.
Cozinhá-lo? O que é isso?
Então o dono da casa ensinou a mulher a conversar com o fogo, a dourar o peixe sobre as brasas e a comer com alegria.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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