Sucesso
espetacular com Nara Leão em seu álbum de estreia (Elenco, 1964),
marca a volta de Cartola à vida musical, depois de um começo
vitorioso entre os bambas do samba seguido de anos de ostracismo e
alcoolismo, até ser redescoberto pelo cronista Sérgio Porto lavando
carros em Copacabana e ter suas músicas gravadas por Nara.
“O
sol nascerá” nasceu dois anos antes, durante uma noitada na casa
de Cartola, quando o jovem Elton Medeiros aceitou o desafio de seu
mestre para criar uma música na hora. E em pouco tempo os dois
fizeram este samba arrebatador, dividindo tanto a música quanto a
letra.
Angenor
de Oliveira nasceu em 1908 e, com 11 anos, se mudou com a família
para o Morro da Mangueira, onde, em 1928, ajudou a fundar a Estação
Primeira. Além de ter sugerido o nome da escola, foi Cartola quem
escolheu o verde e o rosa como as suas cores. Logo seus sambas
desceram para o asfalto. Amigo e parceiro de Noel Rosa, nos anos 1930
teve músicas gravadas pelos maiores intérpretes da época, como
Sílvio Caldas, Francisco Alves, Mário Reis e Carmen Miranda. Em
1940, esteve entre os compositores populares que Heitor Villa-Lobos
levou até o maestro Leopold Stokowski, em um estúdio montado num
navio ancorado na Praça Mauá, onde fez uma série de gravações
depois lançadas em disco nos Estados Unidos.
Pouco
depois, devastado por uma desilusão amorosa, Cartola sumiu dos bares
e dos estúdios das rádios onde mostrava suas músicas e mergulhou
no álcool e no abandono. Durante anos, ninguém ouviu falar dele.
No
início dos anos 1960, resgatado do alcoolismo pelo amor e a
dedicação de Dona Zica, o sol voltava a nascer para Cartola com a
gravação de Nara, que marcava o começo da fase mais produtiva e
bem-sucedida de sua carreira.
Com
sua mensagem de esperança, o samba apostava na alegria e no novo dia
como um elixir musical para todas as horas. Mas quando foi lançado,
logo após o golpe militar de 1964, a letra também foi ouvida como
uma metáfora política contra a ditadura, como nos versos “finda a
tempestade / o sol nascerá”.
Além
de Nara, “O sol nascerá” ganhou mais quatro versões, entre elas
uma do próprio Cartola em seu primeiro disco, um compacto duplo (com
quatro faixas) lançado pela gravadora Mocambo, sem qualquer
repercussão.
Em
1974, já com 66 anos, Cartola gravou em seu primeiro álbum solo
(Discos Marcus Pereira) uma magistral versão de “O sol nascerá”,
com a voz já curtida por décadas de álcool, tabaco e afins, dando
intensa dramaticidade à receita para quem pretende levar a vida
sorrindo.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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