Um
doutor veio formado de São Paulo. Almofadinha.
Suspensórios,
colete, botina preta de presilhas.
E
um trejeito no andar de pomba rolinha. No verbo,
diga-se
de logo, usava naftalina. Por caso, era
um
pernóstico no falar. Pessoas simples da cidade
lhe
admiravam a pose de doutor. Eu só via o casco.
Fomos
de tarde no Bar O Ponto. Ele, meu pai e este
que
vos fala. Este que vos fala era um rebelde
adolescente.
De pronto o Doutor falou pra meu
pai:
Meus parabéns Seo João, parece que seu filho
agora
endireitou! E meu pai: Ele nunca foi torto.
Pintou
um clima de urubu com mandioca entre nós.
O
doutor pisou no rabo, eu pensei. Ele ainda
perguntou:
E o comunismo dele? Está quarando
na
beira do rio entre as capivaras, o pai respondeu.
O
doutor se levantou da mesa e saiu com seu
andar
de vespa magoada.
Manoel de Barros, in Memórias Inventadas – A segunda infância
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