Quando
eu fico aguda de saudade eu viro só ouvido.
Encosto
ele no ar, na terra, no canto das paredes,
pra
escutar nefando, a palavra nefando.
Um
homem que já morreu cantava “a flor mimosa
desbotar
não pode, nem mesmo o tempo
de
um poder nefando” — mais dolorido canta
quem
não é cantor.
A
alma dele zoando de tão grave, tocável
como
o ar de sua garganta vibrando.
No
juízo final, se Deus permitisse,
eu
acordava um morto com este canto,
mais
que o anjo com sua trombeta.
Adélia Prado, in Bagagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário