Achamos
na beira do rio um sapo seco, e um pote.
O
pote estava de barriga aberta ao sol. (Depois
eu
falo do sapo.) Nas enchentes nem quase que não
entravam
as águas para dentro do pote. Por forma
que
o pote era seco e aberto aos ventos. Os bons
ventos
da tarde que entravam com areia e cisco
pelo
ventre aberto do pote. (Demoramos de dois
anos
para voltar àquele retiro.) Agora, de volta,
achamos
o pote tibi de emprenhado. A barriga do
pote
fosse agora um canteiro arrumado. Estava bom
de
criar. Foi que veio daí um passarinho e cagou
na
barriga do pote uma semente de roseira. As
chuvas
e os ventos deram à gravidez do pote forças
de
parir. E o pote pariu rosas. E esplendorado
de
amor ficou o pote! De amor, de poesia e de rosas.
E
havia perto, por caso, um sapo destripado e seco.
A
abertura do ventre do sapo também se enchera
de
areia e cisco. Também se fizera ele um canteiro
arrumado.
Foi que outro passarinho veio e cuspiu
outra
semente de rosa no ventre do sapo. E outra
rosa
nasceu na primavera. Foi um dia de glória
para
o nosso olhar. As rosas do sapo e do pote
foram
abençoadas de borboletas que pousavam nas
roseiras.
Houvemos júbilo!
Manoel de Barros, in Memórias Inventadas – A segunda infância
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