segunda-feira, 11 de julho de 2022

Uma vez, da janela, vi um homem
que estava prestes a morrer,
comendo banana amassada.
A linha do seu queixo era já de fronteiras,
mas ele não sabia, ou sabia?
Como posso saber?
Comia, achando gostoso,
me oferecendo corriqueiro, todavia
inopinado perguntou
ou perguntou comum como das outras vezes? —
como será a ressurreição da carne?
É como nós já sabemos, eu lhe disse,
tudo como é aqui, mas sem as ruindades.
Que mistério profundo!’ ele falou
e falou mais, graças a Deus,
pousando o prato.

Adélia Prado, in Bagagem

Nenhum comentário:

Postar um comentário