Uma
pessoa é uma coisa muito complicada. Mais complicado do que uma
pessoa, só duas. Três, então, é um caos, quando não é um drama
passional. Mas as pessoas só se definem no seu relacionamento com as
outras. Ninguém é o que pensa que é, muito menos o que diz que é.
Precisamos da complicação para nos definir. Ou seja: ninguém é
nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro. Principalmente
com aquela versão extrema do outro que é o outro de outro sexo.
Segundo
uma pesquisa recente, as pessoas se dividem em seis tipos básicos,
de acordo com seu comportamento com o (e como) sexo oposto. Se você
não se enquadrar em nenhuma destas categorias, procure orientação.
Você pode estar no planeta errado.
O
primeiro tipo é o Simbiótico. É o que, numa relação, exige e
cede mais ou menos na mesma proporção. Avança e recua, morde e
sopra, questiona e entende e aceita qualquer coisa para evitar o
rompimento, com a possível exceção da frigideira na cabeça. Vê o
amor um pouco como um cargo público em que o principal é a
estabilidade. Algo inseguro, precisa ouvir constantemente que a
relação está firme, muitas vezes acordando o(a) parceiro(a) no
meio da noite para perguntar isso e precipitando o desentendimento.
Frase característica: “Eu peço desculpa se você pedir.” Depois
tem o tipo Civilizado. É o que se preocupa em ter um comportamento
esclarecido em relação ao outro, respeitando a sua iniciativa
própria e o seu espaço, e só reagindo em casos como o do
aparecimento de uma terceira escova de dentes no banheiro sem uma
explicação convincente. O par civilizado acredita que o amor deve
refletir as conquistas da modernidade, como a tolerância, o respeito
mútuo e, acima de tudo, contas separadas para o caso de algum
litígio terminar em frigideira na cabeça e processo.
O
tipo Egoísta. Como aquele marido que telefonou para a mulher para
explicar seu súbito desaparecimento, dizendo que tinha dado um
desfalque na firma e fugido para a Flórida com a dona Neide da
Contabilidade e que os dois estavam naquele momento no Disneyworld e
prestes a entrar na Montanha Mágica, e quando a mulher começou a
chorar, disse: “O que é isso, sua boba? Não tem perigo nenhum.”
Mas este não é um exemplo típico. Geralmente o egoísmo, no amor,
se manifesta em pequenas coisas como dizer, durante o ato sexual:
“Você se importa de acabar sem mim? Amanhã tenho dentista às
oito.”
Uma
versão atenuada do tipo Egoísta é o tipo Individualista. Este
sempre deixa claro, ao começar uma relação, que não sacrificará
sua individualidade pelo amor, e estabelece os limites de cada
parceiro. A mulher sempre é mais vaga nas suas reivindicações de
independência, protegendo seus interesses separados, seus momentos
de recolhimento e reflexão ou uma vida social própria, enquanto o
homem é mais específico, dizendo coisas como “se tocar no meu
time de botão, apanha”.
O
tipo Controlado dá sempre razão ao outro, cuida do que diz, suprime
sua agressividade e enfrenta qualquer problema de costas,
recusando-se a vê-lo. Em suma, se controla. Frase característica:
“Tudo bem.” Prefere a mesmice a grandes rompantes românticos e
encara com naturalidade qualquer manifestação do outro. Inclusive a
frigideira na cabeça. Mas tem uma coisa: no dia em que explodir,
derruba a casa junto.
O
tipo Doador só tem uma preocupação: fazer tudo pelo outro,
inclusive sacrifícios extravagantes como tirar a comida da própria
boca, o que sempre causa embaraços em restaurantes. Sua maior
felicidade é ser suficientemente desprendido e acumular créditos
emocionais o bastante para um dia poder dizer para o outro a grande
frase, para a qual ele vive: “Depois de tudo que eu fiz por você!”.
O tipo Doador é, na verdade, o tipo Chantagista disfarçado.
Luís Fernando Veríssimo, in Sexo na cabeça
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