O que eu gostaria de fazer era um livro sobre nada. Foi o que escreveu Flaubert a uma amiga sua em 1852. Li nas Cartas Exemplares organizadas por Duda Machado. Ali se vê que o nada de Flaubert não seria o nada existencial, o nada metafísico. Ele queria o livro que não teria quase tema e se sustente só pelo estilo. Mas o nada do meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc etc. O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora.
Manoel de Barros, in Livro sobre Nada
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