quinta-feira, 28 de abril de 2022

Mosaico

Joaquim João era artista de teatro.
Dava as mãos à Julietinha Marra e cantava ‘adeus-amor’.
Fiquei picada de inquieto mel.
Às onze Joaquim subia do serviço
com o paletó jogado num ombro só. Escondida eu cantava
adeus-amor’, com direta intenção e longo fôlego.
Joaquim virava a cabeça ao esganiçado código
e eu cantava mais alto. Um dia, o melhor, se virou duas vezes.
Eu descia da árvore, macaca sentimental, e ia
fazer xixi na calcinha, só para experimentar,
desenhar cinco salamão, rezar o anjo
do Senhor anunciou a Maria e ela concebeu,
o que era igual Letícia vindo brincar,
o hálito saborosíssimo de concebolas.

Adélia Prado, in Bagagem

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