Entre
mim e os mortos há o mar
e
os telegramas.
Há
anos que nenhum navio parte
nem
chega. Mas sempre os telegramas
frios,
duros, sem conforto.
Na
praia, e sem poder sair.
Volto,
os telegramas vêm comigo.
Não
se calam, a casa é pequena
para
um homem e tantas notícias.
Vejo-te
no escuro, cidade enigmática.
Chamas
com urgência, estou paralisado.
De
ti para mim, apelos,
de
mim para ti, silêncio.
Mas
no escuro nos visitamos.
Escuto
vocês todos, irmãos sombrios.
No
pão, no couro, na superfície
macia
das coisas sem raiva,
sinto
vozes amigas, recados
furtivos,
mensagens em código.
Os
telegramas vieram no vento.
Quanto
sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo
homem sozinho devia fazer uma canoa
e
remar para onde os telegramas estão chamando.
Carlos Drummond de Andrade, in A Rosa do Povo
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