Quando
fresco, parece caviar, faz um barulho de cacos de vidro, de alguém
mordendo gelo.
Eu
mordia gelo quando a limonada acabava, balançando com a minha avó
no balanço da varanda. Ficávamos olhando lá para baixo, para o
grupo de presidiários acorrentados que estava pavimentando a Upson
Street. Um capataz derramava o macadame; os prisioneiros o calcavam
com batidas fortes e ritmadas. As correntes retiniam; o macadame
fazia barulho de aplausos.
Nós
três dizíamos essa palavra com frequência. Minha mãe porque
odiava o lugar onde morávamos, sujo e miserável, e agora pelo menos
teríamos uma rua de macadame. Minha avó apenas porque queria muito
que as coisas ficassem limpas — o macadame iria segurar a poeira. A
poeira vermelha texana que o vento soprava para dentro de casa com
resíduos cinza da fundição, formando dunas no piso encerado do
hall, na mesa de mogno.
Eu
dizia macadame em voz alta, para mim mesma, porque parecia um
nome para um amigo.
Lucia Berlin, in Manual da faxineira: Contos escolhidos
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