A
quem escolhe o nome das coisas, falta um bocado de bom senso. Há
nomes redondamente equivocados: nomes bonitos para coisas feias,
nomes feios para coisas bonitas.
“Borboleta”
é um bom exemplo. Palavra que não tem nada de leve, nada de suave.
“Borboleta” devia ser o nome de alguma coisa que se usa nas
obras, pra apoiar os andaimes. Andaimes, por sinal, que não andam.
Aliás, andar é tudo o que eles não podem fazer.
“Fronha”
também é péssimo. Quem quer encostar a cara numa fronha? Seria
muito melhor deitar na filipina, na filigrana.
“Meia”.
“Meia”? Não só não é meia, nem é só inteira. São duas
inteiras. Um par de inteiras, não um par de meias.
Mas
nenhuma escolha foi mais infeliz que “urina”.
Urina.
Repita: urina. Em voz alta: urina.
Urina
é lindo! Urina não podia ser resíduo, excremento! Não!
Urina…
Urina soa como pequenos cristais arrastados pela brisa.
Marina
que veio de Urano. E que ri.
Ri
a menina Urina.
Quem
escolheu o nome das coisas me roubou a Urina.
Filha
de olhinhos apertados por bochechas coradas, cor de sol.
Me
roubou essa menina, Urina, luz dos meus olhos.
Urina.
Urina. Pequenos cristais que se afastam.
Adeus,
Urina, pequenina que nunca terei.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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