quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Mimoso

Fazia cinco dias que Mimoso estava agonizando. Com uma colherzinha, Mercedes lhe dava leite, suco de frutas e chá. Por telefone, ela chamou o embalsamador, deu a altura e a largura do cachorro e pediu os preços. Embalsamá-lo ia custar quase um mês de salário. Interrompeu a conversa e pensou em levá-lo imediatamente, para que ele não se deteriorasse muito. Ao se olhar no espelho, viu que seus olhos estavam muito inchados de tanto chorar e decidiu esperar a morte de Mimoso. Colocou um pratinho ao lado do aquecedor de querosene e voltou a dar leite ao cachorro com a colherzinha. Ele já não abria a boca e o leite se derramou no chão. Às oito, o marido chegou, choraram juntos e se consolaram pensando no embalsamamento. Imaginaram o cachorro na entrada do quarto, com seus olhos de vidro, cuidando simbolicamente da casa.
Na manhã seguinte, Mercedes pôs o cachorro dentro de uma bolsa. Não estava morto, talvez. Para não chamar atenção no ônibus, fez um embrulho com aniagem e folhas de jornal e o levou ao estabelecimento do embalsamador. Na vitrine da casa viu muitos pássaros, macacos e cobras embalsamados. Fizeram-na esperar. O homem apareceu em mangas de camisa, fumando um charuto toscano. Pegou o embrulho, dizendo:
Tá, o cachorro está aqui. Como vai querer? — Mercedes parecia não compreender. O homem trouxe um álbum cheio de desenhos. — Quer ele sentado, deitado ou parado? Sobre um suporte de madeira preta ou pintadinho de branco? Como vai querer?
Mercedes olhou sem ver nada:
Sentadinho, com as patinhas cruzadas.
Com as patinhas cruzadas? — repetiu o homem, como se não tivesse gostado.
Como o senhor quiser — disse Mercedes, ruborizando.
Fazia calor, um calor sufocante. Mercedes tirou o agasalho.
Vamos ver o animal — disse o homem, abrindo o embrulho. Pegou Mimoso pelas patas traseiras e continuou: — Está menos gordinho que a dona dele —, e soltou uma gargalhada. Olhou-a dos pés à cabeça e ela baixou os olhos e viu seus peitos sob o suéter justo demais. — Quando o vir pronto, vai ter vontade de comer.
Mercedes se cobriu com o agasalho bruscamente. Retorceu entre as mãos as luvas pretas de pelica e disse, contendo o anseio de esbofetear o homem ou de arrancar o cachorro dele:
Quero um suporte de madeira como aquele — apontou para o que sustentava um pombo-correio.
Vejo que a senhora tem bom gosto — sussurrou o homem. — E os olhos, quer de quê? De vidro vai ser um pouco mais caro.
Quero de vidro — respondeu Mercedes, mordendo as luvas.
Verdes, azuis ou amarelos?
Amarelos — disse Mercedes, num ímpeto. — Ele tinha os olhos amarelos como as borboletas.
Sabia! Tem que pagar adiantado — disse o homem.
Eu já sei — respondeu Mercedes —, o senhor me disse por telefone — abriu a carteira e tirou as notas; contou-as e as deixou sobre a mesa. O homem lhe deu o recibo. — Quando fica pronto, para eu vir buscá-lo? — perguntou ela, guardando o recibo na carteira.
Não precisa. Eu é que vou levá-lo, dia vinte do mês que vem.
Virei buscá-lo com meu marido — respondeu Mercedes e saiu precipitadamente da casa.
As amigas de Mercedes souberam que o cachorro tinha morrido e quiseram saber o que tinham feito com o cadáver. Mercedes disse que mandaram embalsamar, mas ninguém acreditou. Muitas pessoas riram. Ela resolveu que era melhor dizer que o tinha jogado por aí. Com sua trama nas mãos, esperava como Penélope, tecendo, a chegada do cachorro embalsamado. Mas o cachorro não chegava. Mercedes ainda chorava e secava as lágrimas com o lenço florido.
No dia marcado, ela recebeu um telefonema: o cachorro já estava embalsamado, só precisava ir buscá-lo. O homem não podia ir tão longe. Mercedes e o marido foram buscar o cão em um táxi.
O que esse cachorro nos fez gastar — disse o marido no táxi, vendo os números subindo.
Um filho não teria custado mais — disse Mercedes, tirando o lenço do bolso e enxugando as lágrimas.
Bem, chega; você já chorou o bastante.
Na casa do embalsamador, tiveram que esperar. Mercedes não dizia nada, mas seu marido a observava atentamente.
Será que as pessoas não vão dizer que você está louca? — inquiriu o marido com um sorriso.
Pior para elas — respondeu Mercedes com veemência. — Não têm coração, e a vida é muito triste para os que não têm coração. Ninguém ama gente assim.
Tem razão, mulher.
O embalsamador trouxe o cachorro quase rápido demais. Sobre um apoio de madeira envernizada em tom escuro, semissentado, com os olhos de vidro e o focinho também envernizado, estava Mimoso. Aparentava boa saúde como nunca antes; estava gordo, bem escovado e lustroso, a única coisa que lhe faltava era falar. Mercedes o acariciou com as mãos trêmulas; lágrimas saltaram de seus olhos e caíram sobre a cabeça do cão.
Não vá me molhar o cachorro — disse o embalsamador. — E lave a mão.
Só falta falar — disse o marido. — Como o senhor faz essas maravilhas?
Com venenos, senhor. Faço todo o trabalho com venenos, usando luvas e óculos; de outra maneira, me intoxicaria. É um sistema pessoal. Vocês não têm crianças em casa, têm?
Não.
Será que é perigoso para nós? — perguntou Mercedes.
Só se vocês o comerem — respondeu o homem.
Temos que cobri-lo — disse Mercedes, depois de secar suas lágrimas.
O embalsamador envolveu o animal embalsamado em folhas de jornal e entregou o embrulho ao marido. Foram embora alegres. No caminho, conversaram sobre o lugar onde colocariam Mimoso. Escolheram o saguão da casa, junto à mesinha do telefone, onde Mimoso os esperava quando eles saíam.
Uma vez em casa, depois de examinarem o trabalho do embalsamador, colocaram o cachorro no lugar escolhido. Mercedes se sentou de frente para ele, para olhá-lo: esse cachorro morto a acompanharia como a tinha acompanhado o mesmo cachorro vivo, a defenderia dos ladrões e da solidão. Acariciou sua cabeça com a ponta dos dedos e quando pensou que o marido não estava vendo, lhe deu um beijo furtivo.
O que suas amigas vão dizer quando virem isso? — inquiriu o marido. — O que vai dizer o portador de livros da Casa Merluchi?
Quando vierem jantar, vou guardá-lo no armário ou direi que foi um presente da senhora do segundo andar.
Você vai ter que contar à senhora.
Vou fazer isso — disse Mercedes.
Naquela noite beberam um vinho especial e foram para a cama mais tarde que de costume.
A senhora do segundo andar sorriu ao ouvir o pedido de Mercedes. Compreendeu a perversidade do mundo diante do qual uma mulher não pode mandar embalsamar seu cachorro sem que pensem que ela é louca.
Mercedes era mais feliz com o cachorro embalsamado do que com o cachorro vivo; não lhe dava de comer, não tinha que levar para fazer xixi nem tinha que dar banho nele, ele não sujava a casa nem mordia o capacho. Mas a felicidade não dura para sempre. A maledicência chegou até a casa na figura de um bilhete anônimo. Um desenho obsceno ilustrava as palavras. O marido de Mercedes ficou trêmulo de indignação: o fogo ardia menos na cozinha do que em seu coração. Pôs o cachorro sobre seus joelhos, quebrou-o em vários pedaços como se fosse um galho seco e o arremessou ao forno, que estava aceso.
Sendo verdade ou não, não importa, o que importa é que estão falando.
Você não pode me impedir de sonhar com ele — gritou Mercedes e, vestida, se deitou na cama. — Sei quem é este homem perverso que escreve bilhetes anônimos. É aquele portador miserável. Não voltará a entrar nesta casa.
Você terá que recebê-lo. Ele vem jantar hoje à noite.
Hoje à noite? — disse Mercedes. Saltou da cama e correu para a cozinha para preparar o jantar, com um sorriso nos lábios. Junto com o cachorro, pôs as costelas no forno.
Preparou a comida mais cedo que de costume.
Temos carne assada com couro — anunciou Mercedes.
Antes dos cumprimentos, à porta, o convidado esfregou as mãos ao sentir o cheiro que vinha do forno. Depois, enquanto se servia, disse:
Estes animais parecem embalsamados — olhou com espanto os olhos do cachorro.
Na China — disse Mercedes —, me disseram que as pessoas comem cachorros. Será que é verdade, ou será um conto chinês?
Não sei. Mas, em todo caso, eu não os comeria por nada neste mundo.
Não se pode dizer “deste cachorro não comerei” — respondeu Mercedes com um sorriso encantador.
Desta água não beberei — corrigiu o marido.
O convidado ficou impressionado com o desembaraço de Mercedes para falar de cachorros.
Temos que chamar um barbeiro — disse o convidado ao ver a carne com couro com alguns pelos aparecendo e, gargalhando, com um riso contagiante, perguntou: — É com molho que se come carne com couro?
É uma novidade — respondeu Mercedes.
O convidado se serviu da travessa, chupou um pedaço de couro embebido em molho, mascou-o e caiu morto.
Mimoso ainda me defende — disse Mercedes, recolhendo os pratos e secando suas lágrimas, pois chorava enquanto ria.

Silvina Ocampo, in A fúria

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