Há na vida poucos prazeres maiores do
que chamar a própria mãe. É um misto entre o prazer da segurança
e a doce sensação de causar tormento num ser incondicional.
Mas para ser bom mesmo, daqueles prazeres
que enchem o peito, tem que ser gritado, como se a distância entre o
cômodo em que você está e aquele em que ela se encontra fosse
análoga àquela entre Cachoeira Paulista e Presidente Venceslau.
E tem que haver uma entonação de
urgência, permeada por suaves notas de desespero, para garantir uma
ponta de dúvida, ainda que remota, quanto ao nosso bem-estar físico
e emocional.
A real causa varia de acordo com a idade:
o leite atrasado, a toalha esquecida, o casaco desaparecido, a
esperança perdida ou a simples necessidade da certeza de que, mesmo
após tantos anos, ela continua lá.
Mas não basta gritar “Mãe!!!!!”.
Nem berrar “MÃÃÃÃÃE!!”.
Nem é tão satisfatório se for “ôôô,
Mããããããe!!”.
O melhor grito da vida é um só. O
“Mã-nhêêêêê!!”.
Com esse “nh” inexistente, colocado
ali só para que o momento dure mais.
E tem que durar.
Porque haverá um dia em que o grito será
memória e a visão da mulher amada, visivelmente irritada, será só
saudade, senão história.
Ruth Manus, in Pega lá uma chave de fenda: e outras divagações sobre o amor
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