sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O banho de música das 18 horas | Capítulo 8



Ao ouvir a palavra explodir, madame Asari sentiu um frio na espinha; aquilo acionou uma memória em sua mente de quando eles cruelmente tentaram assassinar o professor no quarto da senhora Miruki e uma inesperada explosão ocorreu, destruindo os corpos de ambos e espalhando os seus membros para todo lado. — Bem, não temos escolha. Irei abrir esta sala após acionar o sistema de segurança.
Com uma expressão desprovida de medo, como se houvesse aceitado seu destino, Bara discou três números na frente da porta. Três luzes-piloto piscaram em sucessão: verde, vermelho, amarelo. Logo a porta começou a se abrir, silenciosa. O temeroso grupo espiou o interior da sala, através da fresta crescente.
A nona sala é onde o professor armazenou seus protótipos. Por favor, não encoste nas criaturas aí dentro.
Bara os conduziu, e eles entraram na sala com cuidado.
O grupo ficou abismado logo na primeira coisa que notaram: de tudo o que podia haver ali, uma mulher nua — inspecionando-lhes com os olhos — foi o que encontraram.
Ela aparentava ter cerca de 17 ou 18 anos de idade, exibindo um lindo corpo de um branco puro e brilhante, remetendo ao leite. Porém, acima de tudo, foi seu rosto encantador que chamou a atenção deles; pode procurar pelo mundo inteiro e você nunca verá uma mulher tão bonita. Algo nela era reminiscente da Vênus de Milo, mas talvez fosse melhor dizer que ela mais se parecia com um anjo. Sem sentir vergonha alguma por seu corpo (que de fato não vestia nada), ela sorriu para o grupo.
Que beleza incrível! — o presidente Miruki disse em voz alta, sem vergonha, com uma alegria lasciva. — Qual é o nome dela?
O nome dado a ela é Annette — respondeu Bara pela jovem mulher.
Então o nome dela é Annette. Esse é um bom nome, mas acredito que seria melhor dar a ela um nome agradável, que faça jus à sua aparência.
Mas, Vossa Excelência, você não deve se confundir. Annette é um androide. Por favor, dê uma olhada minuciosa em seu corpo.
O quê? Olhar o corpo dela?
O presidente Miruki abriu bem os olhos e analisou com calma o corpo de Annette.
Ah, entendo.
Quando o presidente olhou para baixo, não pôde deixar de sorrir, porque havia descoberto a parte do corpo dela que estava incompleta, muito diferente de uma humana de verdade.
Permita-me explicar. O que vocês veem habitando esta sala são todas criaturas experimentais, criadas pelo professor Kohak. Esse ser de quatro patas que parece com um leitão tem o corpo e o coração artificial, e o cérebro foi transplantado de um pastor alemão. Em seguida, temos um macaco com o cérebro de uma criança humana…
De pé, em frente às jaulas de arame, Bara descreveu as criaturas, uma a uma.
Era uma coleção de criaturas bizarras; nenhuma era normal. Algumas pareciam humanas. Uma delas era a parte de cima do corpo de um homem, imerso em um largo recipiente de vidro preenchido com um líquido amarelo. Ele segurava um tubo de vidro em sua boca com as duas mãos e bebia avidamente o líquido roxo que saía dali. Seguindo o tubo até a sua origem, adjunto havia um elaborado aparato químico, mas na entrada dele o líquido em seu interior era amarelo. Em resumo, o ciclo foi desenvolvido para que o líquido amarelo se transformasse no líquido roxo, e então de volta para amarelo assim que passasse pelo meio-corpo. Bara explicou que era um novo experimento focado em estudar ingestão nutricional.
Até mesmo durante as explicações de Bara o presidente Miruki parecia ansioso, distraído pela androide Annette. A secretária, madame Asari, não pôde ignorar o comportamento dele, e por causa disso seu rosto ficou pálido e seu corpo começou a tremer.
No entanto, o presidente Miruki não pareceu notar a reação da madame e se separou do grupo, retornando ao local em que Annette se encontrava.
Adorável Annette, o que você está fazendo aqui?
Annette deu um sorriso largo, assim como uma mulher enlouquecida.
Vossa Excelência — Bara abordou o presidente com um olhar de preocupação. — Annette é um protótipo, então ela só entende alguns códigos especiais. Ela não entende a língua mirukiana.
O quê? Ela não entende mirukiano? Que infortúnio — o presidente disse. Porém a atração que ele sentia por Annette apenas aumentou, sua beleza podia ser considerada enlouquecedora.
Naquele momento, a secretária rangeu os dentes, era visível o seu esforço para se conter, mas logo correu na direção de Annette. O rosto da secretária estava pálido; ela retirou uma faca de dentro de um bolso interno na parte superior de sua roupa e, segurando-a como um picador de gelo, moveu seu braço diretamente contra o coração de Annette. No entanto, no último segundo, Bara pulou no braço de madame Asari, arriscando a própria vida, e por pouco conseguiu proteger o androide. Contudo a secretária estava em um frenesi; mesmo Bara podia sentir a adrenalina.
Secretária, o que está fazendo?
Isso não é da sua conta! Eu tenho autoridade para matar esse androide, e vou!
Por favor, não a mate.
Por que você está interferindo? Pode ser errado matar um ser humano, mas o que há de tão errado em matar um androide? Só de olhar para essa mulher inútil me dá vontade de vomitar. Com a minha autoridade, vou matar Annette.
Não, você não deve matar Annette! Desde que foi construída há várias semanas, ela tem protegido os protótipos desta sala. Ela tem falado conosco e nós nos tornamos amigas. Annette não é diferente de uma pessoa real. Matá-la é apenas… absurdo!
Bara segurou firme o braço da secretária, que tinha a faca em mãos e se recusava a soltar.
Então você deseja se opor à secretária de Estado. Como queira, você não será perdoada!
Por favor, madame Asari, eu imploro que reconsidere… E outra coisa, nós devemos proteger quem restou, porque o professor se foi e talvez nunca mais sejamos capazes de construir outros androides. Isso seria a pior perda possível para a Nação Miruki!
A pior perda possível? Que presunçosa… — madame Asari soltou um riso abafado. — Eu imagino que você tenha se apaixonado por esse androide.
Bara ficou em silêncio.
Em um surto de raiva, a secretária puxou o cabelo de Bara e tentou arrastá-la para o chão. O presidente Miruki, perplexo com isso, vociferou.
Espere, madame Asari. Pelo nome de Miruki, você está proibida de ferir esse androide! Os androides são produtos preciosos da pesquisa de nossa nação. Ao longo dos anos, gastei 80 bilhões de rukul nessa pesquisa. Você não pode matá-los. Agora, abaixe essa faca.
Vossa Excelência — madame Asari disse, enquanto agarrava o colarinho do presidente. — Obedecerei à sua ordem. No entanto, prometa-me uma coisa, você nunca irá falar desses androides inúteis como se eles fossem pessoas reais, porque não são.
Sim, eu sei que não são. E você sabe mais do que ninguém que não tenho motivos escusos aqui.
Com isso, os olhos da secretária se estreitaram de repente e ela corou de vergonha.
No canto, Penn permaneceu sozinho, enojado pelo que havia acontecido.
Que situação perturbadora. Bara se apaixonou pelo androide, e a secretária está tendo um caso com o presidente Miruki. Com tudo isso acontecendo, não há mais motivos para eu me segurar. Meu grande amigo Paul, o fabricante de sapatos, alterou seu corpo para se tornar uma mulher, e com certeza ele fez isso para poder ficar comigo. Certo, acho que está na hora de acertar as coisas com Paul.”

Juza Unno, in A última transmissão

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