Hoje eu me sentei na sala do Diretor,
apontei vinte e três lápis para ele, e para ela – para Sua
Excelência, Ela – apontei mais quatro.
O Diretor gosta de ver muitos lápis
sobre a sua mesa. Que cabeça ele deve ter! Ele continuamente se
envolve em silêncio, mas eu não acho que o menor detalhe lhe
escape. Eu gostaria de saber o que ele pensa, o que lhe passa pelo
cérebro; eu gostaria de conhecer todas as maneiras desses
cavalheiros, e ter uma vista de perto da arte da astúcia na Corte, e
todas as atividades desses círculos. Eu já pensei em perguntar para
Sua Excelência algumas vezes; mas – Deus sabe o porquê – toda
as vezes minha língua me falhou e eu não consegui nada além do
relatório meteorológico.
Eu gostaria de dar uma olhada no gabinete
do qual eu tanto vejo a porta se abrir. E um segundo aposento após o
gabinete atiça a minha curiosidade. Que mobília esplêndida; que
qualidade de espelhos e que escolha de porcelanas contém! Eu também
gostaria de ver os aposentos que Sua Excelência, a filha, reside. Eu
gostaria de ver como todos os vidros de perfume e caixas estão
arrumados em seu vestíbulo, e as flores que exalam um perfume tão
delicioso que me dariam receio de respirar. E as roupas dela caídas
pelo lugar, que são tão etéreas que mal podem ser chamadas de
roupas-mas silêncio!
Hoje me ocorreu o que pareceu uma
inspiração divina. Eu me lembrei da conversa entre os dois
cachorros que eu ouvi na Alameda
Nevsky. “Muito bem” eu pensei;
“agora eu vejo claramente. Eu preciso obter a correspondência
que aquelas cadelinhas trocaram entre si. Nela eu devo obter muitas
explicações”.
Eu já tinha chamado a Meggy e dito para
ela “Ouça, Meggy! Agora nós estamos sós, juntos; se você
quiser, eu posso fechar a porta para que ninguém nos veja. Agora me
conte tudo que você sabe sobre a sua dona. Eu juro para você que
não contarei a ninguém.”
Mas a cadela astuta agitou a sua cauda no
ar e andou em silêncio até a porta, como se não tivesse me ouvido.
Eu já era há tempos da opinião de que
cães são mais espertos do que homens. Eu também acreditava que
eles podiam falar, e que apenas uma certa obstinação os impedia.
Eles são animais especialmente vigilantes e nada lhes escapa à
observação. Agora, custe o que custar, amanhã eu vou ao prédio do
Sverkoff para questionar a Fidel, e se eu tiver sorte, obter as
cartas que a Meggy lhe escreveu.
Nikolai Gogol, in Diário de um louco
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