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Andei pensando outro dia que essa coisa
de ficar em forma, além de ser difícil, também é muito injusta.
Por exemplo, quando fiz meu mestrado, sacrifiquei noites, perdi
festas, surtei, mas... dois anos depois eu tinha um título. Pronto,
virei mestre. Mestre para sempre. Agora, no doutorado, o raciocínio
é o mesmo: vou me lascar durante três ou quatro anos e serei
doutora para sempre. Quase todo esforço costuma ser recompensado
dessa forma.
Mas quando o assunto é boa forma,
reparem na injustiça, a sina nunca acaba. Podemos decidir que este
será o ano em que ficaremos magros e belos: vamos cortar
carboidratos, eliminar o álcool e as frituras, comer mais fibra,
aumentar a atividade física, fazer musculação. Depois de tanto
sacrifício podemos chegar ao final do ano esbeltos e invejáveis. E
então? Receberemos um diploma oficial de magros? Um título
definitivo de gostosões? Uma credencial dizendo “indivíduo em boa
forma” sem prazo de validade? Nada disso. Não receberemos nada e,
se vacilarmos, em uma semana já estamos roliços outra vez. É só
piscar e a calça já aperta de novo.
Gente, isso não é de Deus. Tem alguma
coisa errada na regulamentação desse instituto. E o direito
adquirido, como fica?! Isso aí é piada de mau gosto. “Duas
castanhas-do-pará no lanche; filé de frango com salada no almoço,
gelatina sem açúcar à tarde, sopa SEM BATATA no jantar.” Não,
gente, não tenho estrutura. Por uns meses eu aguentaria, desde que
viesse com o título eterno de magreza. Mas não! Essa dieta é pra
sempre?! Ad aeternum? Acompanhada de corrida na esteira quase
todo dia? Tô fora.
Comprometo-me a fazer exercício duas
vezes por semana. Ter uma alimentação balanceada. Tentar não beber
álcool durante a semana. Colocar os chocolatinhos num armário bem
alto. Comprar pão integral, arroz integral, macarrão integral (na
hora do leite, esses nutricionistas malandros mudam de ideia). Checar
colesterol, triglicérides e glicemia anualmente. Não mais do que
isso.
Admiro os comprometidos que decidem ter a
vida regrada assim para sempre. Mas sabe? Queijo, né, gente? Pizza.
Vinho, cerveja, chocolate quente. Hambúrguer. Lasanha. Azeite.
Mortadela. Doce de leite. Polenta frita. É um preço muito alto por
uma calça dois números menor. A não ser, como disse, que, depois
de um ano de esforço, a calça coubesse para sempre. Aí eu era
capaz de topar. Caso contrário, não compactuarei com essa
injustiça.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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