Por muito tempo eu não soube a
velocidade de crescimento das árvores. Na nossa reserva, as faias
jovens têm entre 1 e 2 metros de altura. Antigamente, eu teria dito
que a idade delas seria no máximo 10 anos. No entanto, quando
comecei a estudar os mistérios que iam além da exploração
florestal, passei a fazer observações mais atentas. É possível
descobrir a idade de faias mais jovens pelos nós que se encontram
nos galhos, pequenos engrossamentos que lembram uma sequência de
pregas finas. Todo ano eles se formam embaixo dos botões e acabam
ficando para trás quando estes eclodem na primavera seguinte e os
galhos crescem. Ano após ano isso se repete. Assim, o número de nós
equivale à idade da árvore. Quando o galho engrossa mais que 3
milímetros, os nós desaparecem por baixo da casca que se expande.
Ao examinar faias jovens, descobri que um
galho de 20 centímetros apresenta 25 desses pontos de engrossamento.
Nesse curto espaço não havia mais nenhuma indicação de idade,
mas, quando fiz uma projeção da idade total da árvore a partir da
idade do galho, concluí que ela devia ter pelo menos 80 anos. Na
época isso me pareceu incrível, até que passei a estudar as
florestas antigas e descobri que isso é totalmente normal.
As árvores jovens desejam crescer
rápido, e para elas não é problema algum fazer um estirão de meio
metro por estação. No entanto, as mães não gostam muito da ideia:
cobrem as mudas com suas copas imensas e, ajudadas por outras
adultas, formam um teto denso sobre a floresta, deixando passar
apenas 3% da luz do sol, que incidirá no solo ou nas folhas de suas
filhas. Três por cento – praticamente nada. Com essa quantidade de
luz elas só conseguem realizar fotossíntese suficiente para não
definhar. Não é possível realizar um crescimento contínuo ou
mesmo engrossar o próprio tronco, mesmo que apenas um pouco. E
também não é possível se rebelar contra essa educação rigorosa,
porque elas não têm energia para isso.
Educação? Sim, pois se trata de uma
medida pedagógica que visa apenas ao bem-estar das árvores jovens,
e é esse o termo usado por silvicultores e engenheiros florestais.
Sua forma de educar é limitando a incidência da luz na árvore
jovem. Com isso, a intenção dos pais não é evitar que a própria
prole conquiste a independência o mais rápido possível. A verdade
é que, segundo pesquisas, o crescimento lento das árvores jovens é
uma precondição para que elas alcancem uma idade avançada. Nós
perdemos a noção do que de fato é velho, pois para a silvicultura
moderna a idade máxima das árvores é entre 80 e 120 anos –
período em que os espécimes plantados são derrubados e utilizados.
No entanto, em condições naturais, a
árvore chega a essa idade com a altura de um homem adulto e a
largura de um lápis. Como cresceu devagar, as células da madeira em
seu interior contêm pouco ar e são minúsculas. Isso as torna
flexíveis e resistentes a rupturas em caso de tempestades. O mais
importante de tudo, porém, é que a ausência de ar na célula
aumenta sua resistência a fungos, que não conseguem se espalhar
pelo tronco. A árvore que passa por esse processo tampa facilmente
suas feridas com a casca antes de surgir qualquer ponto de
apodrecimento.
Uma boa educação é garantia de uma
vida longa, mas às vezes a paciência das mudas se esgota. Como
mencionei no Capítulo 5, os frutos da faia e do carvalho caem aos
pés da árvore-mãe. A Dra. Suzanne Simard, que ajudou a descobrir o
instinto maternal das árvores, descreve as árvores-mães como
espécimes dominantes ligados a outras árvores pelas conexões entre
raízes. Essas árvores transmitem seu legado para a geração
seguinte e influenciam a criação das árvores jovens. Na nossa
floresta há faias jovens, que já aguardam há pelo menos 80 anos
debaixo da progenitora de cerca de 200 anos (convertendo para o
padrão humano, 40 anos). Possivelmente a espera durará mais 200
anos até terem a chance de crescer. No entanto, essa espera não é
tão ruim: as árvores-mães estão em contato com as filhas pelas
raízes e lhes fornecem açúcar e outros nutrientes. Podemos dizer
que as árvores são amamentadas.
É possível descobrir por conta própria
se a árvore se encontra em estado de espera ou se já tem condições
de crescer com rapidez. Para isso, no caso de um abeto-branco ou uma
faia, basta observar os galhos. Se o crescimento lateral for
visivelmente maior que o vertical, é sinal de que ela está em modo
de espera, pois o sol que a árvore tem recebido não basta para
formar um tronco maior. Sua saída, portanto, é tentar captar os
poucos raios que chegam a ela da maneira mais eficaz possível.
Assim, estendem seus galhos perpendicularmente e desenvolvem folhas e
agulhas (folhas com formato de agulha, típicas de árvores
coníferas) adaptadas para a sombra, mais finas e sensíveis. Em
geral não se consegue ver o broto principal nesses espécimes; eles
lembram mais um bonsai de copa achatada.
Mas um dia a espera acaba. A mãe alcança
a idade-limite ou adoece. Então, uma tempestade de verão pode dar
fim a essa história. Sob a forte chuva, o tronco apodrecido não
consegue mais aguentar as toneladas de peso da copa e se quebra.
Quando cai, acaba matando algumas das mudas que aguardavam para
crescer. A abertura que surge no dossel de folhas funciona como um
sinal de largada para as árvores jovens que sobrevivem à queda da
mãe, pois agora elas podem realizar a fotossíntese a todo o vapor.
Com isso, o metabolismo precisa mudar, e elas devem passar a formar
folhas e agulhas que recebam e processem a luz mais intensa. Esse
processo dura entre um e três anos. Ao fim do período de formação,
todas as árvores jovens desejam começar a crescer, e apenas as que
crescerem direto para cima e sem titubear permanecerão na corrida. A
árvore que crescer lateralmente ou demorar para crescer para cima
será ultrapassada pelas outras e voltará a ficar à sombra. A
diferença é que ficarão sob as folhas das mudas que as
ultrapassaram, onde é ainda mais escuro do que antes, pois as
árvores jovens consomem a maior parte da luz fraca que chega. Por
isso, as que ficam para trás morrem e se transformam em húmus.
Enquanto elas crescem surgem outros
perigos. A luz do sol estimula a fotossíntese e promove o
crescimento da árvore, e os botões das mudas passam a receber mais
açúcar. No período de espera, eram duras e amargas, mas com a
mudança se tornam deliciosas para os cervos, que comem parte das
árvores a fim de sobreviver ao inverno. Mas, como a quantidade de
brotos é gigantesca, um número suficiente acaba vingando.
As plantas floríferas também tentam se
aproveitar das áreas que recebem maior incidência de luz por alguns
anos, como a madressilva. Usando suas gavinhas (um apêndice usado
por plantas para se ligar a outras), ela escala o tronco se
enroscando para a direita, no sentido horário, no mesmo ritmo de
crescimento que a muda de árvore, e expõe suas flores ao sol.
Contudo, com o passar dos anos, suas
gavinhas penetram a casca da árvore e aos poucos a estrangulam.
Nesse momento a sorte entra em jogo: se o teto formado pelas copas
das árvores mais velhas voltar a se fechar por um tempo, a sombra
retornará e a madressilva morrerá, deixando apenas cicatrizes. Mas,
se a clareira permanecer por mais tempo (talvez porque a árvore-mãe
que morreu era muito grande e abriu uma lacuna correspondente), a
madressilva continuará crescendo, e a árvore jovem poderá ser
sufocada.
A árvore
que vence todos os obstáculos e continua crescendo com saúde terá
a próxima prova de paciência em, no máximo, 20 anos, tempo para as
vizinhas da árvore-mãe que morreu estenderem seus galhos e ocuparem
a lacuna. Com isso, também ganham um pouco de espaço para realizar
mais fotossíntese na velhice e ampliar a copa. Quando o andar de
cima for totalmente ocupado, o andar de baixo voltará a ficar no
breu. A essa altura os espécimes jovens de faias, abetos ou
pinheiros já percorreram metade do caminho, porém mais uma vez vão
ter que esperar até uma de suas grandes vizinhas morrer. Isso pode
levar muitas décadas, mas a essa altura a sorte delas já está
lançada. Os espécimes que alcançam esse estágio intermediário
não são
mais ameaçados pelos concorrentes. São os próximos na linha
sucessória.
Peter Wollheben, in A vida secreta das árvores: O que elas sentem e como se comunicam
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