As árvores mantêm um equilíbrio
interno. Racionam a energia com todo o cuidado, pois precisam
economizar para realizar todas as necessidades. Parte da energia é
usada em seu crescimento: os galhos devem ser estendidos, o tronco
precisa aumentar em diâmetro para suportar o peso cada vez maior.
Outra parte é retida, para que ela possa reagir e bombear
substâncias de defesa para as folhas e a casca caso seja atacada por
insetos ou fungos. Por fim, resta a reprodução.
As espécies que florescem anualmente
levam em conta esse enorme esforço ao calibrar seus níveis de
energia e mantê-los em equilíbrio. No entanto, espécies como faias
ou carvalhos, que florescem apenas a cada três ou cinco anos, perdem
o equilíbrio na época de reprodução. Parte de sua energia já
está reservada para outras atividades, mas mesmo assim elas produzem
tantos frutos que tudo o mais fica em segundo plano. Com isso, começa
a batalha por espaço nos galhos. As flores ocupam todo o espaço
livre, obrigando as folhas a caírem. Quando isso acontece, a árvore
fica completamente desfolhada e ganha uma aparência estranha. Não
surpreende que nesses anos os relatórios sobre o estado das
florestas indiquem que a situação das copas de espécies em
florescimento é deplorável. E, como todas atingem esse estágio ao
mesmo tempo, à primeira vista a floresta inteira parece doente.
A árvore não está doente, mas
vulnerável, pois para florescer usa suas últimas reservas de
energia. E ainda há um agravante: nessa época ela diminui a
folhagem, por isso produz menos açúcar, que em sua maior parte
acaba sendo transformado em óleo e gordura nas sementes. Assim,
quase não resta energia para a árvore, que precisa estocar parte
dela para o inverno e para se defender contra doenças.
Muitos insetos estão apenas esperando
esse momento, como o besouro da espécie Rhynchaenus fagi, que
bota seus ovos na folhagem jovem e indefesa. Suas larvas ínfimas e
devoradoras abrem túneis entre as partes superior e inferior das
folhas, deixando manchas na superfície. Já o besouro adulto abre
buracos, dando a impressão de que um caçador atirou nelas com a
espingarda. Em alguns anos, o ataque é tão violento que, de longe,
as faias parecem mais marrons que verdes.
Normalmente, as árvores se defenderiam,
secretando uma substância amarga que afastaria os insetos. Mas na
época da floração elas não têm energia para isso e precisam
suportar o ataque sem reagir. Os espécimes saudáveis sobrevivem,
mas levam anos para se recuperar. No entanto, se a faia já estiver
doente, um ataque de insetos desse porte pode significar sua morte.
Mesmo que a árvore soubesse que se
encontra nesse estado, não deixaria de florescer. Com base em
estudos realizados sobre épocas de alta taxa de mortalidade das
florestas, sabemos que mesmo as árvores mais enfraquecidas florescem
com frequência. Provavelmente querem se reproduzir antes que sua
morte ameace sua herança genética. Algo semelhante acontece após
verões mais quentes que o normal. Mesmo que a seca leve várias
árvores à beira da morte, elas florescem todas juntas no ano
seguinte. Dessa forma, pode-se concluir que quando carvalhos e faias
produzem muitos frutos não estão indicando que o inverno seguinte
será especialmente frio. A reprodução é definida no verão (antes
de se saber se o inverno será rigoroso), portanto a grande
quantidade é apenas um reflexo do clima no ano anterior.
No outono a redução das defesas volta a
repercutir, porém nas sementes. Os besouros também perfuram os
frutos, deixando-os completamente ocos e sem valor.
No período de germinação cada espécie
de árvore tem uma estratégia própria de disseminação das
sementes. Se as sementes caem em solo macio e úmido, precisam
germinar logo e aproveitar o sol quente da primavera. Afinal, a cada
dia que permanece caído e desprotegido, o embrião da árvore corre
grande risco, pois pode ser comido por javalis e cervos. Essa é a
situação dos frutos grandes, como os de faias e carvalhos. Para se
tornar menos atraente para os herbívoros, então, o broto nasce o
mais rápido possível. Essa é sua única tática de defesa,
portanto as sementes não têm estratégia alguma contra fungos e
bactérias. Assim, as mais lentas, que não germinam a tempo, acabam
virando húmus antes da primavera seguinte.
Por outro lado, as sementes de muitas
outras espécies aguardam até mais de um ano para germinar. Isso
aumenta o risco de serem devoradas, mas também traz boas vantagens.
Se germinassem em uma primavera seca, por exemplo, as mudas poderiam
morrer, e com isso a energia gasta na produção do broto teria sido
em vão. Além disso a semente também poderia cair no território de
alimentação de um cervo, crescer e, ao virar muda, ser comida pelo
animal. No entanto, se parte das sementes germinasse apenas depois de
um ano ou mais, o risco de ser comida seria distribuído e
aumentariam as chances de que alguma vingasse e se transformasse em
árvore.
É exatamente essa a tática adotada pela
tramazeira: suas sementes podem esperar até cinco anos para germinar
em condições favoráveis. Como se trata de uma planta pioneira,
essa é a estratégia adequada. Enquanto os frutos de espécies
nativas da floresta caem embaixo da árvore-mãe e suas mudas crescem
em um clima de floresta previsível e agradável, as da tramazeira
podem se desenvolver em qualquer lugar, pois os pássaros que comem
sua fruta ácida eliminam suas sementes pelas fezes. Se isso
acontecer em uma superfície aberta, os anos em que houver estações
com climas extremos, temperaturas especialmente altas e,
consequentemente, escassez de água serão muito mais duros para a
tramazeira do que para as outras espécies que crescem em florestas,
sob as sombras úmidas e frescas. Para evitar isso, é melhor que
pelo menos parte das sementes de plantas pioneiras só despertem e
germinem depois de anos.
E quais são as chances de as mudas
crescerem e se reproduzirem? Esse cálculo é relativamente fácil de
fazer. Estatisticamente, cada tramazeira gera uma sucessora que um
dia ocupará seu lugar. Porém as sementes que não são levadas pelo
vento também podem germinar, e os brotos jovens aguardam durante
anos ou mesmo décadas à sombra da árvore-mãe, mas em algum
momento ficam sem energia. E elas não estão sozinhas: dezenas de
outros espécimes se aglomeram aos pés da matriz, e pouco a pouco a
maioria morre e vira húmus. Somente as poucas sortudas que foram
carregadas pelo vento ou por animais para os espaços livres poderão
começar a crescer sem restrições.
Mas, voltando às possibilidades, a cada
cinco anos uma faia produz no mínimo 30 mil frutos (com as mudanças
climáticas, esse intervalo mudou para cada dois ou três anos, mas
vamos desconsiderar esse fato). Entre os 80 e 150 anos, dependendo de
quanta luz recebe, ela alcança a maturidade sexual. Ao atingir a
idade máxima de 400 anos, a faia poderá ter frutificado pelo menos
60 vezes e ter gerado, por baixo, 1,8 milhão de frutos. Desse total,
um se tornará uma árvore adulta. Numa floresta, essa é uma boa
probabilidade de sucesso, parecida com a chance de ganhar na loteria.
Todos os outros esperançosos embriões serão comidos por animais ou
transformados em húmus por fungos e bactérias.
Seguindo o mesmo esquema, vamos calcular
as chances dos brotos em um caso mais adverso: o do álamo. As
árvores-mães produzem até 26 milhões de sementes – por ano.
Essas certamente gostariam de trocar de lugar com os brotos da faia,
pois, até que morra, sua progenitora formará mais de 1 bilhão de
sementes, que, revestidas por uma camada de penugem, são carregadas
pelo vento para novos campos. Mesmo assim, segundo a estatística, só
uma dessas sementes se tornará um álamo adulto.
Peter Wohlleben, in A vida secreta das árvores: O que elas sentem e como se comunicam
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