E havia luz demais para seus olhos. De
repente um repuxão; ajeitavam-no, mas ele não sabia: só tinha
mesmo era o terror de rostos inclinados para o seu. E ele não sabia
de nada. E não podia se mexer livremente. As vozes que para ele eram
trovões, só uma voz era cantante: ele se banhava nela. Mas logo em
seguida era depositado e vinha o terror e ele gritava entre as grades
e viu cores que depois ele entendeu que eram azuis. O azul o
molestava e ele chorava. E o terror das cólicas. Abriam-lhe a boca e
depositavam coisas ruins na boca, ele engolia. Quando era a voz
cantante que lhe dava coisas ruins, ele suportava melhor. Mas era
logo depositado entre as grades. Sombras gigantescas rodeavam-no. E
então ele gritava. A mínima luz de tudo isso é que ele acabara de
nascer. Tinha cinco dias de nascido.
Depois de mais velho ouviu sem entender:
“Este menino já não dá trabalho mas quando nasceu dava choros e
urros. Agora felizmente é mais fácil de criá-lo.” Não, não era
fácil, nunca seria fácil. O nascimento era a morte de um ser uno se
dividindo em dois solitários. Agora parecia fácil porque ele
aprendera a manejar o seu terror secreto que duraria até a morte.
Terror de estar na terra, como uma saudade do céu.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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