Anunciou-se a grande festa no lago
Titicaca e o tatu, que era bicho muito principal, quis deslumbrar a
todos.
Com muita antecipação, se pôs a tecer
a fina trama de um manto tão elegante que ia ser um escândalo.
A raposa o viu trabalhando e meteu o
nariz:
– Você está de mau humor?
– Não me distraia.
– Para que é isso?
O tatu explicou.
– Ah! – disse a raposa, saboreando as
palavras. – Para a festa desta noite?
– Desta noite?
O tatu sentiu o coração na boca. Nunca
tinha sido muito certeiro no cálculo do tempo.
– E eu com meu manto pela metade!
Enquanto a raposa se afastava rindo entre
os dentes, o tatu terminou seu abrigo às pressas. Como o tempo
voava, não pôde continuar com a mesma delicadeza. Teve de utilizar
fios mais grossos e a trama, depois de tecida, ficou mais estendida.
Por isso a capa do tatu é apertada no
pescoço e muito aberta nas costas.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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