domingo, 6 de junho de 2021

O tatu

Anunciou-se a grande festa no lago Titicaca e o tatu, que era bicho muito principal, quis deslumbrar a todos.
Com muita antecipação, se pôs a tecer a fina trama de um manto tão elegante que ia ser um escândalo.
A raposa o viu trabalhando e meteu o nariz:
Você está de mau humor?
Não me distraia.
Para que é isso?
O tatu explicou.
Ah! – disse a raposa, saboreando as palavras. – Para a festa desta noite?
Desta noite?
O tatu sentiu o coração na boca. Nunca tinha sido muito certeiro no cálculo do tempo.
E eu com meu manto pela metade!
Enquanto a raposa se afastava rindo entre os dentes, o tatu terminou seu abrigo às pressas. Como o tempo voava, não pôde continuar com a mesma delicadeza. Teve de utilizar fios mais grossos e a trama, depois de tecida, ficou mais estendida.
Por isso a capa do tatu é apertada no pescoço e muito aberta nas costas.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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