Georges
Bataille tentava, mas não conseguia lembrar onde tinha guardado as
Passagens,
que Walter Benjamin lhe confiara antes de partir para a Espanha.
Acordou, no meio de uma noite agitada e pensou: o ato sexual é, no
tempo, o que o tigre é no espaço. Não sabia, a princípio, qual a
relação entre essa ideia e os manuscritos de Benjamin. Voltou a
adormecer e, de manhã, enquanto preparava o café, lembrou-se.
Guardara tudo na mesma prateleira onde estavam os livros de Herman
Melville em espanhol. Como várias vezes acontece, sua mente operara
a teia sem que ele mesmo soubesse.
A
caça à baleia branca era, no tempo e no espaço, o sexo e o tigre.
E Walter Benjamin lhe dera as pistas, quando disse, alguns dias antes
de partir e, misteriosamente, desaparecer (para sempre, soube-se
depois): “Georges, eu vou, mas na verdade fico. Tudo, para o
verdadeiro colecionador, se funde numa enciclopédia mágica, cuja
quintessência é o destino do seu objeto”. Bataille entendeu então
a lógica que unia Moby Dick, o tigre, o sexo e o livro das Passagens
e, nessa noite, seu sono, embora intermitente, foi menos agitado.
Noemi Jaffe, in Não está mais aqui quem falou
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