Como era época de eleição, a
professora decidiu fazer um pleito simulado na aula.
— Não, André, pleito não é o que o
peru tem na frente. Atenção, aula. Para uma eleição é
preciso...?
— Saco.
— Pare, André. É preciso candidatos.
Quem quer ser candidato? Muito bem. Você... você não, André... e
você. Cada candidato diz o que pensa e o que pretende fazer se for
eleito. Quem conseguir convencer o maior número de pessoas a votar
nele ganha. Vamos começar por você, Carlos Eduardo. Se você fosse
eleito, qual a primeira coisa que faria?
— Acabava com o colégio.
— Não assopre, André. Fale, Carlos
Eduardo.
— Dava dinheiro pros pobres.
— Muito bem, Carlos Eduardo. Só que a
coisa não é tão fácil assim. Não se pode simplesmente imprimir
dinheiro e... eu sei que o candidato é ele e não eu, André. Só
estou tentando ajudar. Que mais você faria, Carlos Eduardo?
— Ahn... construía mais hospitais,
mais escolas e uma sorveteria lá perto de casa.
— Carlos Eduardo, um candidato não
pode pensar nos seus interesses. Tem de pensar nos interesses de
todos. Mas está muito bom o seu programa de governo. Melhor
distribuição de renda, mais atenção à saúde e à educação.
Ótimo. E você, Rita?
— Meus amigos...
— Não precisa subir na mesa. Fale do
chão mesmo.
— Meus amigos! Se eleita, resolverei
todos os problemas do Brasil!
— Como, Rita?
— Confiem em mim.
— Não pode ser assim, Rita. Você tem
de ser mais específica.
— Eu ainda não tenho um plano, mas na
hora me dá um estalo. Eu sei que dá.
— Muito bem. A Rita é o tipo do
candidato que não tem um programa e em quem você confia ou não
confia. Vocês é que vão decidir. E você, Otávio? Faça o seu
discurso.
— Brasileiras e brasileiros!
— O Otávio, André. Você fique
quieto.
— Bom, eu... eu representarei vocês no
governo. O que vocês quiserem, eu farei.
— O Otávio é outro estilo de
candidato. Então, vamos ver. O Carlos Eduardo tem um programa de
governo, a Rita diz que ela, na hora, resolve tudo, e o Otávio diz
que fará o que pedirem. Vamos votar. Cada um escreve neste
papelzinho o nome do candidato, depois coloca nesta caixa. André,
distribua os papeizinhos, por favor. Se isto fosse uma eleição de
verdade estas seriam cédulas, e isto, uma urna. Cada um vota de
acordo com as convicções. Muito bem, todos prontos? André, você
ficou com o seu? Então, vamos lá. Escrevam o nome do seu preferido.
— Como é que se escreve “McDonald's”?
— Isto é sério, André. Vamos ver
quem ganha.
— Primeiro o Otávio, segundo a Rita,
terceiro o Carlos Eduardo.
— Como é que você sabe, André?
— Fiz uma pesquisa enquanto distribuía
os papeizinhos.
— Podem parar de votar.
— Por que, professora?
— Não tem mais graça.
Todos concordaram que as pesquisas
estragam tudo e ninguém falou com o André pelo resto do dia. Apesar
de ele acusar todo mundo de ser contra a ciência.
Luís Fernando Veríssimo, in O santinho
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