No meu tempo de estudante (lá pela Idade
Média), uma das artes que tínhamos que dominar era a arte de
conversar porteiro de baile. Os bailes eram nos clubes, geralmente
com convites, que de convites não tinham nada, já que eram pagos, e
quem tinha dinheiro? O jeito era enrolar o porteiro. A esta cena eu
assisti:
— Tenho que entrar para avisar a minha
irmã. Nossa mãe está passando mal.
— Eu mando chamar.
— Só uma entrada rápida. Se não
voltar em dois minutos o senhor pode mandar me buscar...
— Só entra com convite.
— Eu deixo este chaveiro com o senhor.
É de estimação. Se eu não voltar em cinco minutos...
— Sem convite não entra.
— Eu perdi o meu. Juro!
— Sem convite não en...
— Está bem, está bem. Tome o convite.
Ele tinha o convite o tempo todo, no
bolso do casaco. Depois, reunido com a turma, explicaria:
— Não insisti porque tinha muita gente
atrás e eu estava bloqueando o caminho. Mais um pouco e ele cedia.
Porteiro comigo não tem moleza.
Não era uma questão de ter ou não ter
convite. Era uma questão de princípios. Onde estava a graça de
entrar com convite, como todo mundo?
Luís Fernando Veríssimo, in O santinho
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