O sr. Lobo encontrou o sr. Cordeiro numa
reunião do Rotary e se O queixou de que a fábrica do sr. Cordeiro
estava poluindo o rio que passava pelas terras do sr. Lobo, matando
os peixes, espantando os pássaros e, ainda por cima, cheirando mal.
O sr. Cordeiro argumentou que, em primeiro lugar, a fábrica não era
sua, era do seu pai, e, em segundo lugar, não poderia fechá-la,
pois isto agravaria o problema do desemprego na região, e o sr. Lobo
certamente não ia querer bandos de desempregados nas suas terras,
pescando seu peixe, matando seus pássaros para assar e comer e ainda
por cima cheirando mal. Instale equipamento antipoluente, insistiu o
sr. Lobo. Ora, meu caro, retrucou o sr. Cordeiro, isso custa
dinheiro, e para onde iria o meu lucro? Você certamente não é
contra o lucro, sr. Lobo, disse o sr. Cordeiro, preocupado,
examinando o sr. Lobo atrás de algum sinal de socialismo latente.
Não, não, disse o sr. Lobo, mas isto não pode continuar.
É uma agressão à Natureza e, o que é
mais grave, à minha Natureza. Se ainda fosse à Natureza do
vizinho... E se eu não parar?, perguntou o sr. Cordeiro. Então,
respondeu o sr. Lobo, mastigando um salgadinho com seus caninos
reluzentes, eu serei obrigado a devorá-lo, meu caro. Ao que o sr.
Cordeiro retrucou que havia uma solução. Por que o senhor não
entra de sócio na fábrica Cordeiro e Filho? Ótimo, disse o sr.
Lobo. E desse dia em diante não houve mais poluição no rio que
passava pelas terras do sr. Lobo.
Ou, pelo menos, o sr. Lobo nunca mais se
queixou.
Luís Fernando Veríssimo, in O santinho
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