a música passava lisa; havia também o cão
estático diante do aparelho; além de ouvir
a música,
ele podia farejá-la? Talvez até pudesse vê-la
desprendendo-se em borrões, sem entendê-la;
por isso, ouvindo-a por inteiro, algo espantoso
descobrisse,
nunca saberemos, pois nunca saberemos
por inteiro o que seja um cachorro; quem sabe
da música ele captasse o seu estado puro
número
e sentisse o que nela, mais que racional, não
será humano. No fim, o gramofone murchou,
ficou mudo, mas o cachorro permanece
todo atual.
Eucanaã Ferraz
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