Luísa completava dezesseis anos. A mãe
era só mais uma estrela no céu a brilhar. O irmão não morava com
eles. Nem mesmo o pai lembrara dos seus anos — fora jogar a carpeta
nalgum bolicho próximo. Pouco importava. Colocou o melhor de seus
vestidos e, enquanto o sol cumpria seu ritual, a menina foi se
afastando de casa. Com os pés descalços, corria em direção ao
pequeno bosque de árvores frutíferas que cuidava com carinho e
especial dedicação.
Desde que Antônio voltara para vê-la,
mantinham aquele ritual secreto de adolescentes. Ela lembrava, ainda
de um outro dia, há quase dois meses atrás, quando ele perguntara a
ela se podia voltar. O pai e o irmão chamavam-na ao longe, e ela
correu para ver o que queriam. Mas, daquela vez, não deixou Antônio
sem respostas. Olhou para trás, olhos faiscando, e disse baixinho,
quase um sussurro: Volta amanhã.
E ele voltou. Aquela e muitas outras
vezes. Certo dia, foram flagrados aos risos. Luísa assustou-se,
porém reconheceu os olhos acolhedores da dona Graça, a parteira.
Dona Graça reconheceu os dois jovens e acenou. Ajudara os dois a
nascerem. Quem sabe ajudaria também seus filhos? A mulher, tesoura
de ferro nas mãos, sorriu e continuou sua caminhada.
No dia do seu aniversário, Luísa
esperou por Antônio ainda mais bonita. Colocou no cabelo uma flor,
brinco de princesa, que em seus tons de violeta realçavam ainda mais
a sua beleza agreste. Quando Antônio apeou do bragado, agora já
manso e sujeito, teve a certeza de que não poderia mais viver sem
ela.
— Estás muy linda, Luísa.
— É meu aniversário, sabia?
— Por que não me disse antes? Não
trouxe nenhuma prenda pra te dar.
— Não precisa... Nunca ganho nada.
A frase foi dita sem nenhum rancor ou
mágoa.
—Espera aí! — disse ele, e foi
correndo em direção a uma centenária figueira que estendia seus
braços próximo dali. Subiu no tronco forte da árvore e foi se
empoleirando até alcançar as frutas que já estavam maduras. Pegou
quantos figos gota-de-mel conseguiu.
Alcançou para Luísa o maior e mais
bonito de todos. Ficou próximo o bastante para ver seu próprio
reflexo nos olhos da jovem, que brilhavam cheios de promessas. A
menina sorriu seu sorriso cheio de covinhas e deu uma mordida no
figo. Ofereceu-lhe uma mordida também. Riam, porque cúmplices de um
mesmo sentimento.
De repente, uma leve brisa sacudiu o fino
tecido do vestido e fez com que uma mecha de cabelos escondesse o
olhar de Luísa. Antônio, como por reflexo, tirou os cabelos da
fronte da menina, arrepiando os pelos de seu braço e da sua nuca.
Encararam-se e, a partir dali, nada mais importava. Beijaram-se, um
beijo doce e nervoso. Gotas de mel.
Ele deslizou o vestido pelos ombros de
Luísa, que estava entregue. Revelou-se a ele o corpo amorenado, de
seios pequenos e pernas rijas, cobertas por uma fina penugem
arrepiada. Estavam prontos para seu destino. Descobriram, juntos, o
primeiro amor.
Nem repararam que, perto dali, alguém os
observava.
R. Tavares, in Andarilhos
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