domingo, 17 de janeiro de 2021

Noturno

          O cão está ganindo para a lua. Romantismo? Pura azia... — alguma daquelas abomináveis gulodices de festas de casamento abocanhada numa lata de lixo.
A lua, essa continua sonâmbula como sempre. Ela não sabe, a eternamente virgem, das titiquinhas que por lá deixaram uns escafandros do ar; ela não sabe, ela nunca soube das serenatas que — ainda e sempre e semprerão — cantam-lhe aqui da terra os poetas por demais meninos e os poetas muito velhos.
Ela não sabe, a eternamente inédita, que cada encontro seu é como um assalto na esquina... e, no entanto, é como se a gente topasse cara a cara com a própria alma!

Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

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