—
Gostei
de nascer, doutor,
mas,
agora, já chega.
O
médico baixou o rosto, incapaz de palavra.
Depois,
se acertou e disse:
—
Amanhã,
o senhor volta para sua casa.
O
velho doente
superou
o cansaço das palavras:
—
Agora,
doutor,
a
minha casa é a minha cama.
Que
ele se ia afeiçoando
ao
tamanho dos que partem.
O
médico cortou no drama:
—
Já
é hora da visita.
Já
lhes ouço os passos no corredor.
Sorriu:
a solidão preferia.
Cada
visita
é
uma despedida,
os
parentes junto ao leito,
contemplam
apenas a dor de serem eles,
amanhã,
os visitados.
—
Estão-me
velando sem velas.
Depois
entraram os parentes,
numerosos,
mas
nenhum chegando nunca a estar ali,
nenhuma
ponte cruzando os dolorosos abismos.
Então,
uma
mão pequena,
asa
sem ave,
ascendeu
do chão
e
sobre o leito pousou.
Seria,
por
certo,
a
mão de um neto
que
buscava o abraço sem braço
e
ali se quedou em desajeitada carícia.
Ou
talvez fosse
a
mão de um anjo.
Só
então,
começou
a visita.
Mia Couto
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