O argumento a partir das consequências
consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração
apelando às consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou
falsa). Mas o fato de uma proposição levar a um resultado
desfavorável não significa que ela seja falsa. Da mesma forma, o
simples fato de ter consequências positivas não torna a afirmação
automaticamente verídica. Como afirma o professor David Hackett
Fischer: “Não se deduz que uma qualidade ligada a um efeito seja
transferível à sua causa.”
Se as consequências forem positivas, o
argumento pode alimentar esperanças, por vezes tomando a forma de
pensamento positivo. Já se forem negativas, o argumento pode
suscitar temores. Vamos analisar a citação de Dostoievski: “Se
Deus não existe, então tudo é permitido.” Deixando de lado as
discussões morais, o apelo às consequências sombrias de um mundo
puramente materialista não prova nada sobre a existência ou não de
Deus.
É preciso perceber, porém, que tais
argumentos são falaciosos somente quando usados para afirmar ou
negar a veracidade de uma declaração, e não quando dizem respeito
a decisões ou políticas públicas (Curtis). Por exemplo, um
parlamentar pode logicamente se opor ao aumento de impostos por
receio de que haja um impacto negativo na vida de seus eleitores.
A falácia do argumento a partir das
consequências pode ser reconhecida como uma pista falsa ou
manobra de distração, porque sutilmente desvia a discussão da
proposição original – neste caso, em direção ao resultado e não
ao mérito da proposta em si.
Ali Almossawi, in O livro ilustrado dos maus argumentos
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