terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Argumento a partir das consequências

 


O argumento a partir das consequências consiste em defender ou refutar a veracidade de uma declaração apelando às consequências que ela teria se fosse verdadeira (ou falsa). Mas o fato de uma proposição levar a um resultado desfavorável não significa que ela seja falsa. Da mesma forma, o simples fato de ter consequências positivas não torna a afirmação automaticamente verídica. Como afirma o professor David Hackett Fischer: “Não se deduz que uma qualidade ligada a um efeito seja transferível à sua causa.”
Se as consequências forem positivas, o argumento pode alimentar esperanças, por vezes tomando a forma de pensamento positivo. Já se forem negativas, o argumento pode suscitar temores. Vamos analisar a citação de Dostoievski: “Se Deus não existe, então tudo é permitido.” Deixando de lado as discussões morais, o apelo às consequências sombrias de um mundo puramente materialista não prova nada sobre a existência ou não de Deus.
É preciso perceber, porém, que tais argumentos são falaciosos somente quando usados para afirmar ou negar a veracidade de uma declaração, e não quando dizem respeito a decisões ou políticas públicas (Curtis). Por exemplo, um parlamentar pode logicamente se opor ao aumento de impostos por receio de que haja um impacto negativo na vida de seus eleitores.
A falácia do argumento a partir das consequências pode ser reconhecida como uma pista falsa ou manobra de distração, porque sutilmente desvia a discussão da proposição original – neste caso, em direção ao resultado e não ao mérito da proposta em si.

Ali Almossawi, in O livro ilustrado dos maus argumentos

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