Chegou ao palácio e disse que queria
tomar posse.
— Posse de quê? — perguntaram-lhe.
— De tudo. De qualquer coisa. Eu quero
é tomar posse.
— Todos os cargos estão ocupados. O
senhor chegou tarde.
— Atrasei-me por causa da greve dos
alfaiates, pois eu não podia tomar posse com uma roupa qualquer.
Agora estou convenientemente trajado e venho empossar-me.
— Já lhe dissemos que não há nenhum
posto vago. Não só foram todos preenchidos como há uma relação
de duzentos e cinquenta mil aspirantes a substituir algum dos
titulares que eventualmente se afastar por motivo de reumatismo ou
esclerose cerebral.
— Posso inscrever-me como duzentos e
cinquenta mil e um aspirante. Talvez sobrevenha um terremoto e eu, se
der sorte, passarei ao primeiro lugar e finalmente me darão posse.
— Nunca. Todos os terremotos foram
previstos, todas as inundações etc. Escapará muita gente e haverá
no máximo vinte substituições em nossos quadros. Portanto, o
senhor jamais será aproveitado. Venda o seu terno escuro e passe
muito bem.
Voltou para casa e, à falta de outra
coisa, tomou posse de si mesmo.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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