Não tinha nome, ou se o tivera já se
esquecera dele. E ninguém lhe deu outro. Chamavam-no de diversas
maneiras: o Santo, o Aluado, o Madeirinha, o Oco-do-Pau.
Este último apelido tinha como causa a
resposta que ele dava sempre, fosse qual fosse o assunto: “Tudo bem
no oco do pau”.
Porque morava no interior de uma oiticica
de raízes enormes e expostas — cavidade tão grande que um homem
podia deitar-se lá dentro. Era o que ele fazia, gabando as
comodidades: “No oco do pau não chove. É lugar fresco, protegido
de ventos, e eu o conservo muito limpinho”.
Não dizia muita coisa além disso. Quase
não vinha à cidade e alimentava-se da natureza. Começaram a dizer
que fazia milagres. Teve que fazê-los, mas isto o aborrecia muito.
Não queria a entrada de sua casa de buraco repleta de gente. Nem
tudo agora ia bem no oco do pau.
Para defender-se, treinou uma cobra
inofensiva e colocou-a na defesa de sua intimidade. Os crentes não
se atemorizaram com sua presença, e ela mordia de leve, sem
envenenar ninguém. Acabou sendo considerada anjo porteiro do oco do
pau.
O Madeirinha mudou-se e ninguém mais o
viu.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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