Tocando a flauta declara-se amor ou
anuncia-se o regresso dos caçadores. Ao som da flauta, os índios
walwai convocam seus convidados. Para os tukano, a flauta chora; e
para os kalina, fala, porque quem grita é a trombeta.
Nas margens do rio Negro, a flauta
garante o poder dos varões. Estão escondidas as flautas sagradas e
a mulher que as vê merece a morte.
Em tempos muito remotos, quando as
mulheres possuíam as flautas sagradas, os homens carregavam lenha e
água e preparavam o pão de mandioca.
Contam os homens que o sol se indignou ao
ver que as mulheres reinavam no mundo. O sol desceu à selva e
fecundou uma das virgens, deslizando sucos de folhas entre suas
pernas. Assim nasceu Jurupari.
Jurupari roubou as flautas sagradas e
entregou-as aos homens. Ensinou-lhes a ocultá-las e defendê-las e a
celebrar festas e rituais sem mulheres. Contou-lhes, além disso, os
segredos que deveriam transmitir ao ouvido de seus filhos varões.
Quando a mãe de Jurupari descobriu o
esconderijo das flautas sagradas, ele condenou-a à morte; e de seus
pedacinhos fez as estrelas do céu.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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