Ganhou o apelido de Salvo Se porque, ao
ser convidado para qualquer coisa, respondia invariavelmente:
— Topo, salvo se fizer mau tempo.
— A meteorologia anunciou bom tempo,
não há perigo.
— Então ótimo, salvo se eu quebrar
uma perna.
— Afasta esse azar, não vai quebrar
perna nenhuma.
— É o que espero, salvo se houver um
buraco no caminho.
E assim por diante. Gostava de abacate,
salvo se aparecesse laranja-lima. Viajaria para Maceió, salvo se
desistisse à última hora. No fim de certo tempo, já não prometia
nem planejava nada. Era tudo salvo se, e o salvo se acabou por
impedi-lo de qualquer gesto. Explicava:
— Não posso desistir do salvo se,
salvo se deixasse de existir salvo se na vida.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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