Quando
a vida bater forte
e
sua alma sangrar,
quando
esse mundo pesado
lhe
ferir, lhe esmagar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a LUTAR.
Quando
tudo for escuro
e
nada iluminar,
quando
tudo for incerto
e
você só duvidar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a ACREDITAR.
Quando
a estrada for longa
e
seu corpo fraquejar,
quando
não houver caminho
nem
um lugar pra chegar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a CAMINHAR.
Quando
o mal for evidente
e
o amor se ocultar,
quando
o peito for vazio,
quando
o abraço faltar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a AMAR.
Quando
você cair
e
ninguém lhe aparar,
quando
a força do que é ruim
conseguir
lhe derrubar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a LEVANTAR.
Quando
a falta de esperança
decidir
lhe açoitar,
se
tudo que for real
for
difícil suportar...
É
hora do recomeço.
Recomece
a SONHAR.
Enfim,
É
preciso de um final
pra
poder recomeçar,
como
é preciso cair
pra
poder se levantar.
Nem
sempre engatar a ré
significa
voltar.
Remarque
aquele encontro,
reconquiste
um amor,
reúna
quem lhe quer bem,
reconforte
um sofredor,
reanime
quem tá triste
e
reaprenda na dor.
Recomece,
se refaça,
relembre
o que foi bom,
reconstrua
cada sonho,
redescubra
algum dom,
reaprenda
quando errar,
rebole
quando dançar,
e
se um dia, lá na frente,
a
vida der uma ré,
recupere
sua fé
e
RECOMECE novamente.
“Recomece”
foi o poema que acabou se tornando meu “clássico”, por assim
dizer. Muita gente pensa que ele surgiu por causa de algo que
aconteceu na minha vida. Mas não foi bem assim. A origem desse poema
é a seguinte: em julho de 2017, recebi a pauta do programa Encontro,
para fazer um poema, e logo fiquei muito comovido com a história.
Estaria presente uma menina chamada Laura Beatriz, que sete anos
antes, em 2010, perdera vários familiares num deslizamento no morro
do Bumba, em Niterói. Na noite da tragédia, ela fora entrevistada
pela Fátima Bernardes, numa de suas últimas coberturas fora do
estúdio, para o Jornal Nacional. E mesmo criancinha, aos 8
anos, a menina havia passado muita força.
Já
estava tudo se desenhando para ser um programa emocionante, a
história mexia com todo mundo. Foi uma responsabilidade muito grande
para mim falar sobre aquele assunto, e Laura Beatriz foi a inspiração
do meu poema. Busquei no YouTube pela matéria da época do
deslizamento, parei e assisti. O que eu diria para aquela menina? Se
eu estivesse vivendo aquilo, o que precisaria escutar? Fui movido por
um sentimento de empatia. Todo dia é dia de recomeçar.
Comecei
a escrever e no meio do poema me dei conta de que, ao falar para
Laura Beatriz, no fundo estava falando para todo mundo,
independentemente da dor ou do motivo do recomeço, alguns menores,
outros tão devastadores. De alguma forma, todo mundo está sempre
recomeçando.
“Recomece”
tocou muitas pessoas em momentos importantes de suas vidas. É um
poema que eu mesmo leio para me sentir melhor. Eu me coloco no papel
de leitor, esqueço até que fui eu que escrevi. Tem coisas que
escrevo e parece que é alguém que está me dizendo, é como se eu
nunca tivesse escrito aquilo. Às vezes causa um impacto em mim
mesmo, como é o caso deste poema.
Recebi
muitos depoimentos tocantes sobre “Recomece”, principalmente
pelas redes sociais. Um senhor de Manaus, por exemplo, vendia pastéis
na rua, num carrinho, mas, como não estava dando certo, desistiu e
resolveu procurar emprego. Depois de 15 dias buscando, sem achar
nenhuma oportunidade, ele estava no ônibus quando a esposa enviou,
pelo celular, o vídeo com “Recomece”. No ônibus mesmo ele
assistiu e algo mudou dentro dele. Quando voltou para casa, pegou o
carrinho que estava na garagem, pintou de outra cor, pesquisou outras
receitas de pastéis, mudou de lugar na cidade e... recomeçou. Sua
mensagem terminava assim: “E deu certo, cabra!”
Uma
moça de Santa Catarina escreveu contando que estava no consultório
médico e tinha acabado de receber uma notícia devastadora, um
diagnóstico de câncer. Ela estava saindo da sala com um sentimento
de dor, despedida, derrota, desânimo. Mas, quando passou pela
recepção, olhou para a televisão e eu ia começar a declamar
“Recomece”. Então ela parou e assistiu ali mesmo, em pé.
Muita
gente relatou coisas bonitas a respeito do que eu escrevo, mas o que
essa moça falou foi a coisa mais linda que alguém já disse sobre o
que eu faço: “Foi a oração mais bonita que eu já ouvi na vida.”
Para ela foi uma oração, algo divino, espiritual. Quando abriu a
segunda porta, para ir para casa, foi com um sentimento de renovação,
como se tudo aquilo estivesse acontecendo na sua vida para que ela
recomeçasse e recuperasse muita coisa que tinha perdido. E ela
finaliza: “E deu certo.”
É
claro que, quando escrevi “Recomece”, eu não tinha noção da
existência dessas pessoas, muito menos de seus problemas. Mas é
como se o destino, como se Deus tivesse colocado tudo para acontecer
dessa forma. São as mesmas palavras, escritas pela mesma pessoa,
ditas no mesmo momento, e a poesia pega dois casos tão distintos e
de alguma forma abraça os dois, conforta, melhora, transforma.
Para
mim, é uma grande felicidade ter tido a chance de escrever este
poema e saber que ele chegou a tanta gente. Acho que, dos meus
poemas, este foi o que mais ajudou as pessoas, o que mais serviu.
Acredito que a minha missão é servir, e “Recomece” é um
símbolo disso. E ele me ajuda também. Confesso que, quando está
doendo em mim, eu também me abraço com esse poema.
Gosto
de comparar a poesia a um abraço, que consegue fazer um carinho na
alma sem nem saber qual é a dor que você está sentindo. A poesia
se adapta à sua dor. É um abraço cego e despretensioso, como quem
diz: “Venha! Tá doendo? Pois deixe eu dar um arrocho, que vai lhe
fazer bem.”
Bráulio
Bessa, in Poesia que transforma
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