terça-feira, 22 de setembro de 2020

A perninha mole

        Depois que eu fui promovido a DJ sem precisar passar pelo Big Brother, as coisas começaram a melhorar. Eu beijei vezes suficientes para aprender a dar pressão na boca, saber o que fazer com a língua e deixar os meus dentes minimamente distantes dos delas. Meu primeiro beijo foi horrível, tudo bem, mas minha primeira vez no sexo superou as expectativas. Foi aos 18 anos com uma garota de programa, de graça e bêbado de Natu Nobilis quente num motel em Itaúba, uma cidade com nome de árvore no interior do Mato Grosso.

Ser DJ fixo em uma balada tem vantagens e desvantagens. As vantagens são: a bebida de graça e estar exposto para as garotas te notarem. As desvantagem são: os bêbados pedindo músicas e as garotas que querem transar com você mas pra isso precisam esperar até o fim da festa. E essa garota esperou. Se eu não me engano, a minha primeira linguada dentro da orelha foi ela quem me deu – ou a irmã mais nova de um grande amigo da escola – não lembro agora.

No fim da balada eu peguei emprestado o carro de um amigo do meu irmão sem que este amigo soubesse e fui levar a garota para um motel. Lá em Sinop (uma cidade no interior do Mato Grosso, onde eu morava) os motéis ficavam na beira da estrada, um pouco longe da cidade e isso significava ter que entrar numa rodovia para poder transar. Como a gente iria demorar um pouco até chegar no motel, a garota propôs uma ideia: um boquete enquanto eu dirigia... numa rodovia federal… de madrugada… com caminhões carregados de madeira e soja ultrapassando o tempo todo.

Como a ideia parecia imbecil, topei.

Ela começou e eu a segurei pelo cabelo, tentei dar um ritmo. Ultrapassei alguns caminhões, fechei os olhinhos algumas vezes e só quando rampei três quebra-molas percebi que minha perna estava respondendo pouco aos meus comandos de pisar no freio e embreagem. Mais à frente vi um motel e tirei o pé do acelerador. Liguei o pisca e entrei à esquerda, saindo da rodovia e apontando para a entrada do motel. A garota ainda estava ali dando o melhor dela.

Conforme o motel se aproximava e a garota continuava, eu tentava pisar fundo na embreagem e frear para entrar no motel, mas... e as perninhas moles? Cadê a força? Não tinha! Bati de frente com o muro do motel forte o bastante pra fazer um buraco nele com o carro.

Calma que tem mais! Segundo a primeira Lei de Newton, ‘um corpo em movimento tende a permanecer em movimento’, certo? Assim que eu bati no muro, o meu corpo todo foi em direção ao volante, mas lembre-se: tinha uma garota entre essas duas coisas e comigo na sua boca.

GLARP!

Quando meu corpo voltou pra trás, a garota levantou tomando ar e vomitou no painel todo do carro. De espelhinho a espelhinho. Toda a janta e a bebida da balada ali no painel do carro que eu nem deveria ter pego! O gerente do motel saiu e viu um carro atravessado no muro, uma garota vomitando no painel, um adolescente com o pau de fora e cara de desespero. Ele olhou pra mim e compadeceu: ‘Que noite, hein?’.

É… que noite!

Rodrigo Fernandes, in Tinha tudo pra dar certo se não fosse eu!

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