Cumprimentava
a todos por tudo e mesmo a pretexto de nada. Felicitações,
congratulações que não acabavam mais. Chegou a dar parabéns (a
parabenizar, como dizia) a alguém porque botava uma carta no
correio.
— Que
há de mais nisto? Todo mundo bota cartas no correio.
— Mas
você botou de modo especial.
— Especial,
como?
— Notei
em sua fisionomia a confiança plena no processo de comunicação,
uma espécie de felicidade.
— Pois
olhe: estou enfrentando uma cólica renal.
— Parabéns
por enfrentá-la de pé. Qualquer outro estaria internado.
— A
carta é de cobrança.
— Então
você tem a receber uma bolada. Parabéns.
O
outro teve vontade de… Conteve-se.
O
felicitador contumaz saiu dando parabéns a todo mundo. Seu fim não
foi bom. Telegrafou entusiasticamente ao chefe do governo,
felicitando-o por não fazer absolutamente nada de bom nem de mau: o
governo ideal. Acharam que era desaforo, e o detiveram, processaram e
condenaram a não sei quantos anos de abstenção de cumprimentos.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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