Ser
igual ao promontório, contra o qual as ondas incessantemente
quebram-se; mas ele permanece firme e doma a fúria da água em torno
dele. “Sou infeliz, porque isso me aconteceu.” De forma nenhuma!
Antes: “Sou feliz, porque isso me aconteceu mas continuo livre de
sofrimentos e não me sinto esmagado pelo presente nem temeroso do
futuro.” Pois, tal coisa poderia ter acontecido a qualquer um, mas
nem todos teriam continuado livres de sofrimento em circunstâncias
tais. Por que, então, isso é uma desventura e não uma ventura? Em
suma, chamas uma desventura para o homem o que não é uma aberração
à natureza humana? E uma coisa te parece uma aberração à natureza
se não é contrária aos desígnios da natureza humana? Como então?
Conheces os desígnios da natureza; o que aconteceu te impediria de
ser justo, magnânimo, comedido, sensato, prudente, leal, discreto,
livre, e outras coisas que, por sua presença, dão à natureza do
homem sua feição própria? Lembra-te, também, em qualquer
circunstância que possa afligir-te, de aplicar este princípio: isso
não é uma desventura, mas resistir nobremente é uma ventura.
Marco
Aurélio, in Meditações
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