domingo, 30 de agosto de 2020

Escrita



Tenho fome de um nome
e procuro-o para além dos idiomas
como garimpeiro de vozes
esgravatando um chão de silêncios.

Ecoa em mim
um búzio sem mar,
um peixe agoniza
no estremecer da página nua.

Hoje fui beijado por serpente.
E me espelhei,
água sobre a lua.

Hoje escrevi mel
sobre a picada da abelha:
isso a que outros chamam poesia.
Mia Couto

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