sábado, 25 de julho de 2020

Poeminha do empoderamento

Quem disse que eu sou branco?
Bicho? Santo?
Quem disse que eu sou Deus?
Que eu sou crente?
Gente?
Quem disse que eu sou
ateu?

Quem disse que eu sou
do Nordeste?
Cabra?
Da AIDS?
Da peste?
Quem disse que eu sou belo?
Másculo? Magro?
Gordo? Hétero?
Gay?

Quem disse que eu posso?
Que eu sou rico? Rápido?
Quem disse que eu tenho algo?
Rim? Pulmão?
Régua? Esquadro?

Quem disse que eu sou bom?
Rei? Rato?
Dos males o melhor?
O pior dos condenados?
Quem disse que eu não sou
negro?
E se eu pinto o cabelo?
Se estou novo? Velho?
Emo? Zen? Moderno?

Quem disse que sou o filho
preferido?
E se mudei de sexo?
E se eu não levo em conta
entre as coxas bambas
o que carrego?

Quem disse que sou o Diabo?
O dono do mundo?
O certo? Ereto? O mais errado
entre os espertos?
Quem disse que eu sei?
Que li?
Que voarei além?

Quem disse que eu estou
ao seu lado?
Meu coração
quem disse que bate
bem?

Quem disse que eu sou todo
amor?
Quando planto o terror
quem eu sou?
Quando apoio o regime?
A morte? O crime?
Preso a um ideal?
Entrarei no céu?
Sem graça?
Cadê o meu humor?

Quem disse que eu sorrio?
Que confio na vida?
Perdeu quem apostou
que eu sou patriota.
O que darei em troca?
Quem disse que eu não trairei
a quem tudo me confiou?
Quem disse que eu não tenho
medo?

Diante deste espelho nu.
Nua
a minha alma
é cega.
Sábia. Suja.
Do palacete à rua.
Da lua ao sol.
Minha solidão
filha da puta.
É feliz? Infeliz?

Quem disse de mim
não sabe o que
diz.
Marcelino Freire

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