ele
vai chegar, não é?
O
velho pai espreitou
a
linha de comboio
e
acenou com a cabeça.
Mas
havia demasiada luz
e,
no rosto, sacudiu uma cegueira.
Voltaram,
pai e filho,
à
condição da pedra.
Parados,
ambos, na poeira da espera.
Fazia
tempo
que
ali estavam
aguardando
aquele que haveria de chegar.
Vieram
chuvas e frios,
interiores
rios
estancaram
no peito.
Ao
fim da tarde,
a
mãe lhes trazia merenda
e
sacudia os ombros,
em
silenciosa reprovação.
A
ansiedade do filho
não
tinha consolo:
— É
que ele está vindo do longe,
trazendo
a notícia, não é, paizinho?
A
mãe, corrigia-lhes o sonho:
— Esse
que há de vir
há
muito que perdeu viagem.
Até
que, certo dia,
o
comboio encheu a estação
com
seu suspiro cansado.
Olhar
tropeçando no coração,
o
pai se ergueu
e
o dedo tremente
apontou
o homem
que,
descendo do trem,
se
apossava do mundo.
Então,
o chegante,
na
pedra do pátio se ajoelhou.
As
mãos cruzadas, em respeito,
no
peito se afundaram.
Pai
e filho,
sobre
o mudo visitante se inclinaram.
E
esperaram a anunciada palavra.
O
silêncio,
porém,
tardou
mais
do que a véspera.
Quanto
tempo
demoram
as rezas
de
quem vem do outro lado,
onde
nem anjos há?
Até
que
o
visitante se soergueu,
enfrentou
os que os esperavam e inquiriu:
— Há
quanto tempo
moram
neste cemitério?
Nos
lábios do pai,
suspensa,
a
indizível resposta.
De
súbito,
nem
visitante, nem comboio, nem estação.
Apenas
o pai,
de
passo bêbedo,
espreita
um novo infinito.
Só
então
o
filho sente o perfume das flores
ascendendo
da campa de sua mãe.
Mia
Couto
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