sexta-feira, 31 de julho de 2020

O velho

A claridade na cozinha vai morrendo com a tarde. A velha fecha a torneira da pia, enxuga as mãos no avental e volta ao fogão. Espeta uma fatia alongada de berinjela, deitando ágil uma das faces cruas no óleo quente. O frigir recrudesce, espirra, e a velha, empunhando ainda o garfo, afasta o corpo, notando num relance o marido parado ali na entrada da sala para a cozinha.
Que que você está fazendo aí de chapéu na cabeça?”
O velho sobe a mão ao bico do chapéu e descobre a cabeça.
Não vai tomar banho?”
Andam dizendo coisas por aí, Nita.”
Que novidade…”
Andam dizendo coisas” repete o velho.
A velha se afasta do fogão e acende a luz. Fixa o marido.
Desembucha logo.”
É do nosso hóspede, não faz nem meio ano que ele chegou aqui e já andam falando dele.”
Pois deixe que falem, não foi pra festejar esse moço que ele foi hospedado nesta casa. É um pensionista como qualquer outro que passou por aqui.”
Isso não é nada.”
O que que não é nada?”
Estou dizendo que tudo que você pode estar pensando não é nada em comparação…”
Vai tomar banho, vai, em comparação com quê?”
Nada.”
Em comparação com quê?” insiste a velha.
O velho olha pro chapéu preso entre as mãos.
Foi lá no bar do Nonato, era só comentário, todo mundo estava falando dele, até caçoaram de mim…”
Não é de hoje…”
O velho volta a abaixar os olhos.
Eu pensei comigo, eles podem achar o que quiserem, só que estavam indo longe demais em tramar coisas, eu disse.”
Que coisas?”
Disse que se ele não é dessas farras, é que…”
Que farras?”
O velho se cala e continua olhando pro chão.
Fala claro, homem.”
O velho gira lentamente o chapéu entre as mãos.
Eu disse que todo mundo estava enganado pelo menos numa coisa, é que ele não queria prejudicar ninguém, eu disse que esse bacharel era só um coletor zeloso e correto.”
O velho se cala e a velha põe as mãos na cintura.
Vai, continua.”
A velha olha de soslaio pra frigideira, mas logo encara de novo o velho:
Fala!”
Já tentaram subornar esse moço, Nita, e isso não é segredo pra ninguém, só que ele não é sujeito de suborno, eu disse, não é como outros que passaram por aqui e que se vendiam até por um trago de fernete. Mas isso eles não querem entender, nunca que vão aceitar isso, um funcionário público que cumpre seus deveres com o estado e com o povo.”
Quem sabe se você não engoliu uma pérola…”
Que pérola, Nita?”
Estou falando da pérola que você acaba de vomitar. Te aturar a inteligência…” diz a velha decepcionada, na certa não esperava que o suspense descambasse em preocupação cívica. “Vai tomar banho, vai. Hoje não é dia de trocar toalha, fica avisado.”
O velho aperta as mãos na aba do chapéu, enquanto a velha se achega do fogão, destampa uma das panelas, e logo se entretém com a frigideira, onde deita mais uma fatia de berinjela. Vira-se pro marido.
Que que você está esperando? Vai.”
O velho não se mexe.
Não vê que preciso terminar a janta?” “Todos os dias a mesma coisa, Nita, você não me respeita, nunca me respeitou, eu não vou pedir respeito pras crianças da rua.”
Era o que faltava…”
Você nunca me respeitou.” A velha não responde, vira, na frigideira, a fatia de berinjela, enquanto o velho continua olhando pro chapéu.
Não fica aí parado, eu já disse.”
O velho se afasta calado, atravessa a sala, entra no quarto e fecha a porta. A casa está quieta, só no fundo é que se agita, mas no quarto, onde a penumbra vai cedendo à noite que avança, as ressonâncias da cozinha chegam apagadas. O velho se desloca sem acender a luz e logo senta na borda da cama. O chapéu ainda entre as mãos, ele tomba a cabeça e se perde em pensamentos.
Quando desperta do seu recolhimento, o quarto está em sombras. Ele vai até a janela e mal divisa, através da cortina, uns restos de palidez na linha do horizonte. No céu mais alto, o azul é quase escuro, mas a noite, indecisa e fosca, ainda impede que a luz dos postes se expanda. O velho vagueia os olhos quando nota o vulto parado na guia do outro lado. Puxa um canto da cortina: de frente pra casa, a camisa meio aberta, uma das mãos no bolso da calça, na outra um cigarro entre os dedos, o sujeito vasculha o alpendre feito olheiro. Mas logo atira o cigarro longe e se afasta num passo pausado. O velho o acompanha, ultrapassa-o com os olhos e alcança, a meio quarteirão, o V8 preto parado rente à calçada. O olheiro se aproxima do carro sem acelerar o passo, até que se inclina junto à porta dianteira e troca palavras com alguém no volante. Neste mesmo instante, uma loira de vermelho, a blusa do vestido com decote avantajado, colo e braços muito brancos, salta do banco traseiro como se procurasse ventilação, despregando seguidamente com a ponta dos dedos o tecido colado em parte à proeminência dos fartos seios. Parece repreendida por ter saído, se enfiando logo no carro sem discutir. O olheiro se inclina mais uma vez pro motorista, mas não demora em retornar, no mesmo passo pausado, ao lugar em que se encontrava antes. Acende outro cigarro, voltando a incidir os olhos no alpendre da casa.
O velho solta o pano da cortina e as coisas lá fora ficam de novo imprecisas. “Eles tramaram o quê?” murmura. “Mas tramaram o quê?” repete e aperta as mãos.
A velha abre a porta do quarto.
Vem jantar.”
O velho não se mexe.
Você não tomou banho?” pergunta notando que ele veste a mesma roupa.
Vão acontecer coisas.”
A velha acende a luz do quarto.
Que que andam dizendo por aí?”
Já disse que vão acontecer coisas.”
O quê?”
O velho não responde.
Vai falar ou não vai?” grita a velha.
O velho abaixa os olhos e se tranca, enquanto a velha aperta a boca, vira as costas, apaga a luz e deixa o quarto, o andar agitado.
O velho se detém assim que sai do quarto, pois no mesmo instante, vindo do seu quarto de entrada independente, o jovem pensionista entra quase sem ruído do alpendre pra sala. Sem ser notado, observa o moço que se vira pra fechar a porta que acaba de transpor. Num passo comedido, logo se descobre por inteiro pela claridade crescente que invade a sala, parando timidamente a um passo da porta da cozinha.
Pode entrar” diz a velha às voltas com travessas.
As mãos enfiadas a prumo nos bolsos do paletó, o que lhe dobra os braços, o pensionista avança mais um passo.
A comida está esfriando, pode entrar.”
O pensionista ainda vacila, mas se aproxima da mesa.
O velho sai do seu canto, atravessa a sala e entra na cozinha, ficando a um passo do pensionista, que se acomoda na cadeira de costas pra ele. Compenetrado, as mãos caídas, o chapéu preso pelas mãos, como quem se coloca em sinal de respeito, parece até que ele assiste a uma missa fúnebre enquanto observa o ritual do moço desdobrar o guardanapo e estendê-lo sobre as pernas, uma desenvoltura que não combina com sua timidez, uma timidez sem os traços de doçura do simples acanhamento, antes caprichosa, de feição intratável, como o burro de uma criança. Daí talvez, desde que chegou, seu silêncio impermeável, e a reclusão que se impôs a cada noite, fechando-se na cela do seu quarto.
O velho atira então um anzol em busca do que poderia estar por trás daquela solidão precoce, mas a palavra que procura se insinua, vem quase à tona, o peixe se entremostra e, sinuoso, num isto afunda, escapando-lhe. Demora depois o olhar sobre a nuca do bacharel, onde o remoinho dos cabelos, rebelde, guarda um visível frescor infantil, compatível por sinal com suas faces de menino, um tanto imberbes.
Do outro lado da mesa, sentada de frente pro moço, o olhar há muito erguido pro velho, uma mulher grande, matrona de cabelos anelados, afeta indignação:
O senhor não nos diz boa-noite, s’Eugênio?”
O velho não responde.
O senhor está tão esquisito!”
Recolhendo os ares de pensionista mais antiga, a mulher de cabelos anelados abaixa os olhos, descansando-os sonhadores sobre as mãos do moço à sua frente, cruzadas contra a quina da mesa.
A velha serve o terceiro prato de sopa e, curvando o corpo, coloca-o à frente da cadeira vazia. Olha o marido:
Você não vai sentar?”
Fixa contrariada o chapéu em suas mãos, mas se limita a um resmungo: “Caduco”.
O velho avança dois passos, se ajeita na cadeira de frente pra sua mulher, e só então repousa no chão o surrado chapéu de feltro. A velha se serve também de sopa, senta, e mergulha primeiro a colher no prato. A matrona esquece seu êxtase momentâneo, colhido na trama de olhares furtivos, e acompanha a velha. As mãos do moço se descruzam sob o olhar perscrutador do velho, que aperta as próprias mãos entre os joelhos, enquanto de olhos baixos não perde de vista os movimentos do pensionista à sua direita.
Você não vai tomar a sopa?” recrimina a velha.
O velho não responde, não ergue sequer a cabeça.
Está ótima!” comenta a pensionista antiga no intervalo curto entre duas colheradas.
Não se trocam mais palavras, o ruído é seco, incisivo. O carro deve ter sido freado em frente ao portãozinho do jardim da casa. A colher do moço, subindo, se interrompe, com ligeiro tremor, na meia altura. Ele devolve, ainda cheia, a colher ao prato. A velha faz o mesmo, antes porém sorve ruidosa o caldo. A pensionista, professora sem constrangimento, não se perturba, sua colher sobe e desce ininterrupta. Concentrada na sopa, tem atrás dos óculos as pálpebras quase descidas, e é pros pelos negros, que brotam da verruga ao lado do seu queixo, que parecem convergir os olhares.
O ranger das tábuas no assoalho do alpendre chega à cozinha.
O velho se põe de pé.
O que foi?” pergunta a velha.
Você não ouviu?” pergunta aflito o velho.
Sua mulher faz um trejeito de descrença com uma ponta de escárnio, enquanto o velho indaga ainda com os olhos a professora, que termina imperturbável a sua sopa.
Tanto rato no porão, s’Eugênio…” diz ela afastando o prato.
O ruído de um carro que zarpa fortemente acelerado encerra as apreensões da velha:
Foi um automóvel” diz ela terminando sua sopa.
Antes que a tensão se desfaça, e com voz sedutora, a professora engata um comentário, sonhando talvez com doces recompensas:
Já disseram que o automóvel só serviu para acelerar o fim da nossa espiritualidade.”
A citação elevada se perde, o moço nem se mexe, só a velha é que arregala os olhos, mas logo volta pro seu prato.
A professora não desiste e continua exibindo sua elegância um tanto ambígua ao subir com as duas mãos o guardanapo, aplicando-o em pequenos toques contra a boca, como se fosse uma compressa. Ao mesmo tempo seus olhos cheios de apetite se deslocam a contragosto, trocando as mãos esculturais do moço pela fatia de berinjela no seu prato. E não demora em ir ao cesto de pão, de onde colhe as três únicas torradas ali existentes, encomendadas de costume pra sua dieta.
De pé até então, a cabeça talvez longe do que se passa na mesa, o velho volta a sentar.
Reconheço só pelo arranque o carro dos que estão à minha caça, não aceitam que eu contrarie seus interesses” diz de modo intempestivo o jovem coletor, a voz firme, fazendo-se ouvir excepcionalmente naquela mesa. “Não cedi a eles, quando se apresentavam como amigos, não me vendi depois, quando se diziam realistas, tentam agora me difamar como inimigo. Se não me dobrar a essa chantagem, matam” diz o moço e se tranca.
A velha arregala de novo os olhos, enquanto o mal-estar se instala pesado na mesa. Se nem todos entenderam o que acabavam de ouvir, sentiram pelo menos o que havia de grave, não se atrevendo depois qualquer palavra ou gesto. Só a professora arrisca um olhar rápido e, diante da assustadora palidez do moço, para de mastigar, engolindo apressada todo o bolo alimentar. Berinjela frita e torrada mal triturada lhe entalam na garganta, engasga e tosse sem parar. A mão direita em concha cobre a boca, mesmo assim marca a toalha branca com borrifos e salpicos, enquanto o guardanapo, preso pelas pontas dos dedos da outra mão, acena confusamente. A velha se levanta e socorre a professora, bate forte nas suas costas e lhe aproxima um copo d’água. O velho e o moço ficam alheios à súbita agitação, nem se mexem. A professora parece recompor-se ao arrancar estertores do fundo da garganta. Leva finalmente o guardanapo aos olhos lacrimejantes.
Com licença” mal consegue dizer, e retira-se pigarreando da mesa.
A velha volta à cadeira, olha duramente o marido e se serve de berinjela. Passa a travessa ao moço que se limita a esboçar um sinal de recusa. Levanta-se mais uma vez, recolhe da pedra da pia um dos quatro pratos feitos de sobremesa, colocando-o diante do pensionista: “O senhor não pode ficar sem comer, coma pelo menos o pedaço de mamão”.
O moço não toca no prato, continua pálido, a cabeça erguida, um adolescente enfezado em franco desafio. Ao notar a faísca que lhe incendeia os olhos, o velho fica a um nada de balbuciar qualquer coisa.
Raiva” diz o velho num puxão, entre dentes, como se acabasse de fisgar a palavra teimosa que tanto lhe escapava, mas que se debate agora inteira na sua boca. É como se chegasse com essa palavra ao nervo daquele jovem. “Raiva!” repete em voz bem audível e sem propósito aparente. E parece que sorri.
A velha arregala pela terceira vez os olhos como se o mundo estivesse definitivamente de pernas pro ar.
O velho se levanta e a velha o interpela de boca cheia:
Aonde você vai?”
O velho não responde. A velha engole a comida, afasta rudemente o prato, e grita:
Aonde você vai?”
O velho deixa a cozinha enxovalhado pelo escarcéu que sua mulher apronta: derruba a cadeira quando se levanta, praguejando alto ao recolher louças e talheres, como se atirasse tudo contra a bancada da pia.
O velho atravessa a sala e alcança o alpendre já anoitecido. Encosta a porta, dando conta do silêncio que existe ali, e aspira fundo, soltando todo o com a boca em bico, de alívio. Mas forte o perfume, estranho e suspeito, espalhando-se pela atmosfera escura. Desloca-se vagaroso pelo chão de tábuas, enquanto o perfume se insinua em tudo: nas paredes, nas colunas de madeira enroladas por retorcidas trepadeiras, na fantasia falha da balaustrada.
Tem um cheiro forte de perfume em nossa casa, Nita” murmura intrigado.
Do alto da escada que leva ao jardim embaixo, enquadrado pelas duas alas do alpendre, corre atentamente os olhos pelas folhagens que acobertam a estridência de grilos. No pequeno canteiro circular, o cipreste romano se ergue ereto e soturno no centro, com o ponteiro acima da cumeeira da casa, quase indevassável à escassa luz que já se expande do poste mais próximo. Nada balançaria suas ramas tesas nessa noite de mormaço, mas um jogo apagado de sombra e luz tremula suavemente na parede do fundo, onde duas portas dão acesso aos quartos independentes dos pensionistas.
O velho suspende a investigação, vai até o canto da ala que divisa em nível bem mais alto com a rua, e se larga numa das cadeiras de vime. Cruza as mãos, e de novo aspira fundo perfume.
Os passos na calçada repercutem pausados no alpendre, se aproximam da casa. O velho não se mexe. Os passos perdem o compasso junto ao portãozinho de entrada pro jardim, mas logo são retomados no mesmo ritmo. O velho se inclina pra direita e, através do espaço entre dois balaústres, seus olhos quase se chocam com o mesmo olheiro, que segue em frente sem apressar o andar. Sempre pausados, os passos se afastam e desaparecem.
O velho se encolhe quando o pensionista deixa a sala e, no alpendre, se dirige para a ala dos fundos, paralela à rua. O moço passa pela porta da professora, onde um risco de luz marca a soleira, e logo alcança a porta de entrada do seu quarto.
Afundado na cadeira, no outro extremo, o velho ouve primeiro o ruído discreto da maçaneta se abaixando, vê a meia folha da porta se abrindo, e se retesa quando a luz do quarto se acende sem ser acionada pelo moço, paralisando-o no instante em que ele ia transpor a soleira. Antes que recue, certa mão desenvolta surge pelo vão da porta e, alongando-se num braço obscenamente branco de mulher, enlaça por trás a cintura do moço, puxando-o pra dentro. E a mesma mão, sinuosa, fecha a porta, trancando-a à chave. As mãos do velho estão agarradas aos braços da cadeira. Do quarto da professora, chegam apagados os pigarros de mais um acesso de tosse.
Novos passos na calçada. O velho se põe de pé. Uma senhora, missal e mantilha preta dobrada numa das mãos, se aproxima seguida de um vira-lata. Cumprimentam-se. Pouco depois, o andar seguro, ela dobra a esquina. Ninguém mais na rua, só o silêncio do alpendre. O velho volta a sentar, descendo a mão espalmada pelo rosto, como se enxugasse o suor desde o alto da testa. E estica então as pernas, apoiando os pés no assento da cadeira em frente. Mole, distenso, fecha os olhos. “Farras” murmura, e adormece.
Tire os pés da cadeira” ordena a velha. O velho abre assustado os olhos.
Recolha os pés.”
O velho retira os pés da cadeira, enquanto a velha senta.
Ele conduz o olhar temeroso pros fundos: o alpendre ali está quieto e escuro. Desapareceu o risco de luz na porta da professora, já entregue na certa a seu sono solitário. Os dois voltam a se encarar, quase se chocam com os olhos. O silêncio atento da velha cobra duramente do marido uma palavra.
Estão acontecendo coisas em nossa casa” diz enfim o velho. A velha se empertiga e seus olhos brilham no escuro.
Que que andam dizendo por aí?”
O velho não responde.
Me diz.”
O velho não responde.
Conta, homem.”
Já disse que estão acontecendo coisas em nossa casa.”
O quê?”
O velho abaixa os olhos.
Vai falar ou não vai?” O velho se tranca e desvia os olhos pra rua, enquanto a velha se ergue furiosa e arremeda o marido torcendo a voz:
Andam dizendo coisas por aí… Vão acontecer coisas… estão acontecendo coisas em nossa casa… Peste de velho!”
Vira as costas, abandona o alpendre e bate a porta da sala.
O velho não se perturba, não perde a serenidade de agora. Nada no seu semblante revela aflição, em nenhum dos seus traços transparece qualquer comoção. Olha pro alto. O céu, como um fruto, está maduro. E há em tudo um clima silencioso de espera.
Raduan Nassar, in Obra completa

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