Com
o preço da carne do jeito que está, não se ouve mais aquela frase
que geralmente vinha depois de “precisamos nos ver”:
— Vamos
fazer um churrasquinho lá em casa!
Por
“churrasquinho” se entendia alguma coisa informal, um pretexto
para bermudas e papo, sem maiores gastos e compromissos. Um
churrasquinho não envolvia planejamento prévio, convites
antecipados ou muita frescura.
Claro,
havia os grandes churrascos. Daqueles em que o assador começava o
dia exercitando os dedos e fazendo invocações a Santa Gertrudes,
padroeira das carnes. Mas, normalmente, o churrasquinho era o
protótipo da sem-cerimônia.
Não
mais.
Hoje
um convite para churrasquinho na casa de alguém provoca comentários.
— Eu
não sabia que eles estavam tão bem...
Ou:
— Essa
mania de ostentação...
Ou:
— Iiih.
Aí tem ACM...
E
o convite não pode mais ser feito, assim, na rua, na base do “leva
a patroa”. Não demora, convite para churrasco vem impresso. Com
“R.S.V.P.” no fim.
“O
sr. e a sra. F. de Tal convidam para ‘grillés en brochette’ e
saladas...”
Ou,
ainda mais imponente:
“Para
um ‘grillade sur braises avec de la farine de manioc à la
graisse’...”
Uma
relação dos pratos a serem servidos pode muito bem acompanhar o
convite.
“Les
grosses saucises
Les
coeurs de poule
Les
côtes de boeuf
La
picanhá
Le
cupin
Le
matambre farci
La
salade d’oignon et tomate
Les
pommes de terre sauce mayonnaise”
O
que pode dar confusão é o item “aperitifs”:
— Que
diabo é isto aqui?
— Deixa
ver... “La petite femme rustique”.
— O
que é?
— “La
petite femme rustique”... Bom, “femme” é mulher.
— “Petite
femme...”
— Mulherzinha.
— “Rustique”,
rústica.
— Mulherzinha
rústica?
— Caipirinha!
E
na sobremesa:
“Confiture
de goyave avec du fromage”.
Luís
Fernando Veríssimo, in A mesa voadora
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