sábado, 27 de junho de 2020

Um estranho animal

Um certo dia, enfastiado de todas as suas obras e delicadas maquinações e artifícios para povoar a terra de musgos, água, rochas e bichos – de variados tipos, tamanhos e sortilégios, estúpidos e ferozes, cheios de pêlos ou escamas –, Ele, o Sem-Nome, o Inominável, o Rosto sem Face, criou um estranho animal, mistura de medo, cheiros e truculências, e se esqueceu de dar a ele uma razão qualquer para estar ali, entre os rios e o fogo, a luz e a escuridão ao que parece, deixou-o imerso na perplexidade e no desalento, entregue à eterna dúvida sobre o seu destino e o significado de sua passagem e finitude.”
Hilda Hilst, in Palavra, Ano 6, nº 6/1999 (abertura da entrevista)

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