sábado, 27 de junho de 2020

Os limites da imaginação

Por que lhe deram esse nome — Vitrúvio? Porque os pais acharam bonito. Assim, por ter crescido Vitrúvio, quis tornar-se Vitrúvio, mas a profissão de arquiteto não combinava com o seu eu profundo.
Seus projetos conduziam a desabamentos, e teve de resignar-se a não projetar no papel. Passou a fazê-lo em imaginação, reconstruindo totalmente Paris e outras cidades, e conquistando prêmios acadêmicos de repercussão internacional.
Mas vivia triste, porque Cristina Onassis não lhe deu licença para instalar na ilha de Scorpios o Centro Universal de Festas, obra que traria felicidade ao mundo. Por mais que insistisse em sonho, ela continuava irredutível. A imaginação freou-se a si mesma. Se fosse procurá-la pessoalmente, talvez a moça acabasse cedendo à insistência. Mas de longe, e em pensamento, nunca.
Vitrúvio jamais se consolou, e passou a considerar Cristina mulher sem imaginação.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis

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