Você
já foi humilhada? Menosprezada? Desdenhada? Aviltada? Eu já, e
antigamente ficava pálida, envergonhada, com vontade de morrer. Isso
acabou. E vou dizer como. É uma história breve, não vai ocupar o
tempo de vocês.
Botei
um anúncio no jornal, sabe, naquelas páginas usadas por
prostitutas, fregueses, sujeitos em busca de sexo. Todo jornal tem
isso, escondido no meio daquelas páginas de pequenas propagandas.
Cristina,
mulher jovem, esbelta, bonita. Preço razoável. Faz tudo, inclusive
coisas que o freguês nem imagina. Vou na casa do interessado. Caixa
postal 555.
Fui
na casa do primeiro que respondeu ao meu anúncio. Toquei a
campainha. Um sujeito meio calvo, de cabelos grisalhos abriu a porta.
“Sou
a Cristina.”
“O
quê?”
“Sou
a Cristina, do anúncio.”
Depois
que o sobressalto da sua surpresa passou ele disse:
“Você
não era jovem, esbelta e bonita? O que estou vendo na minha frente é
uma gorda de mais de cem quilos.”
“Cento
e dez”, corrigi.
“Está
achando que eu vou pagar para foder um bagulho como você? Pode dar o
fora, baleia.”
Então
cravei uma faca no corpo do sujeito. Cravei fundo. Os gordos têm
muita força nos braços e usam roupas largas, ótimas para esconder
facas ou outras armas.
Ele
caiu no chão. Verifiquei que estava morto. Procurei e achei o
recorte do meu anúncio, que coloquei no bolso, junto com a faca, que
lavei na pia do banheiro. A carteira do sujeito estava cheia de
dinheiro. Mas não sou ladra.
Saí
e passei na confeitaria. O garçom recebeu-me amavelmente. Garçons
sempre gostam muito de mim.
“O
de sempre, senhorita? A torta, a caixa de sorvete e os chocolates?”
“Vou
querer também um pacote de balas amanteigadas.”
Peguei
o embrulho e fui para casa. Comecei comendo a torta, depois os
chocolates, depois o sorvete. Chupei as balas enquanto via televisão.
Eu
tinha que ficar gorda, muito gorda, não podia ter menos de cem
quilos. Era a única maneira de me vingar daqueles que gostavam de
humilhar os outros.
Amanhã
sai outro anúncio meu no jornal.
Rubem
Fonseca, in Histórias curtas
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