quarta-feira, 17 de junho de 2020

Escrever o silêncio

Em algum ponto deve estar havendo um erro: é que ao escrever, por mais que me expresse, tenho a sensação de nunca na verdade ter-me expressado. A tal ponto isso me desola que me parece, agora, ter passado a me concentrar mais em querer me expressar do que na expressão ela mesma. Sei que é uma mania muito passageira. Mas, de qualquer forma, tentarei o seguinte: uma espécie de silêncio. Mesmo continuando a escrever, usarei o silêncio. E, se houver o que se chama de expressão, que se exale do que sou. Não vou mais ser: “Eu me exprimo, logo sou.” Será: “Eu sou, logo sou.”
Clarice Lispector, in Crônicas para jovens: de escrita e vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário