A
ironia tem algo de desumano. Ainda mais com aquele ar de
superioridade, mesmo que se trate de um Eça, cujo estilo o salvou. E
quando digo estilo quero dizer o homem. Em Anatole France, nem isso:
sua prosa era um pastiche dos clássicos; seu ceticismo, uma atitude.
Tudo porque acabo de descobrir no diário de Jules Renard esta frase
tão humana: “Só se tem o direito de rir das lágrimas depois que
já se chorou.” Isto, agora, já não é ironia: é húmor. E, a
propósito, a melhor discriminação que encontrei entre uma coisa e
outra foi em Louis Latzarus em sua biografia de Rivarol: “A ironia
é o espírito à custa dos outros; o humor é o espírito à custa
própria.”
P.S.
— Neste agá, que vale pelas citações, verdade seja dita, usei a
grafia “húmor”, proposta por Sud Menucci, como equivalente do
“humour” britânico, num seu agudo e hoje infelizmente
inencontrável ensaio publicado pela antiga Editora Monteiro Lobato.
Mas um problema ainda resta: essa vaga designação de humoristas e
humorismo — que, por exemplo, no mesmo saco de gatos, mistura
Machado de Assis e Léo Vaz, tão finos, com Mark Twain, um grosso.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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