O lago das ninfeias, de Claude Monet
Tive
uma experiência de felicidade guiando meu carro em Piracicaba, na
avenida que acompanha o rio. Fim de tarde de outono. À esquerda um
parque com gramados verdes e árvores. De repente, um lago coberto
com ninfeias! Ninfeias eram as flores favoritas de Monet e sobre suas
telas Bachelard escreveu um ensaio tão belo quanto as telas do
pintor. Pois lá estavam elas, inesperadas e maravilhosas. Eu nunca
havia visto tantas ninfeias abertas e tão grandes! Um casal de
frangos d’água avermelhados andava sobre suas folhas, que
flutuavam sobre a superfície da água. Parei o carro e fui me
assentar à beira do lago. Não havia ninguém mais lá. Ao
contrário, havia muita gente se divertindo nos parquinhos a curta
distância. Lembrei-me de que, no Admirável mundo novo, de
Huxley, as crianças eram ensinadas a odiar as belezas da natureza
porque elas nos dão prazeres gratuitos, o que é ruim para a
economia. Mas eram ensinadas a amar as coisas artificiais que se
constroem no campo, como clubes e parques aquáticos, porque isso é
bom para a economia. Pode um mar tranquilo competir com a adrenalina
do jet-sky? Ou vacas pastantes competir com o barulho das
motocicletas?
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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