sexta-feira, 10 de abril de 2020

Ninfeias

O lago das ninfeias, de Claude Monet

Tive uma experiência de felicidade guiando meu carro em Piracicaba, na avenida que acompanha o rio. Fim de tarde de outono. À esquerda um parque com gramados verdes e árvores. De repente, um lago coberto com ninfeias! Ninfeias eram as flores favoritas de Monet e sobre suas telas Bachelard escreveu um ensaio tão belo quanto as telas do pintor. Pois lá estavam elas, inesperadas e maravilhosas. Eu nunca havia visto tantas ninfeias abertas e tão grandes! Um casal de frangos d’água avermelhados andava sobre suas folhas, que flutuavam sobre a superfície da água. Parei o carro e fui me assentar à beira do lago. Não havia ninguém mais lá. Ao contrário, havia muita gente se divertindo nos parquinhos a curta distância. Lembrei-me de que, no Admirável mundo novo, de Huxley, as crianças eram ensinadas a odiar as belezas da natureza porque elas nos dão prazeres gratuitos, o que é ruim para a economia. Mas eram ensinadas a amar as coisas artificiais que se constroem no campo, como clubes e parques aquáticos, porque isso é bom para a economia. Pode um mar tranquilo competir com a adrenalina do jet-sky? Ou vacas pastantes competir com o barulho das motocicletas?
Rubem Alves, in Do universo à jabuticaba

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